Na semana passada, nosso mandato lançou a campanha “O isolamento em defesa da saúde; a fé em defesa da vida”. Líderes religiosos de diversos credos deram seus testemunhos de fé e de amor ao próximo e reforçaram a necessidade de isolamento social como forma de prevenção do Covid-19.
Confira aqui o vídeo. Sobre o tema, a Iyalorisa Valéria ty Logun Edé se manifestou através da “Carta aberta pela manutenção da vida dentro e fora do terreiro”.
Carta aberta pela manutenção da vida dentro e fora do terreiro
Venho, por meio desta carta, explicitar meus posicionamentos sobre o necessário isolamento social no período da pandemia do vírus COVID-19, enquanto Iyalorisa regente de um Terreiro de Candomblé de Matriz Ketu no estado do Ceará - o Ilé Asé Ómó Tifé.
Um terreiro de candomblé em nenhum aspecto pode ser confundido com uma iniciativa privada que visa, por meio do mercado de bens e serviços religiosos, o enriquecimento daquelas e daqueles que o regem. Muito antes, um terreiro, geralmente, tem por seu principal objetivo atender a comunidade que o compõe, transmitindo saberes e práticas ancestrais, advindas do continente africano, e trazidos ao Brasil no movimento histórico da diáspora forçada.
Assim, frente a enorme calamidade que nos acomete em nosso tempo - uma doença pouco conhecida, mas de comportamento bastante volátil - é missão das Iyalorisas e Babalorisas guardarem-se em suas casas, suspendendo suas atividades que possam aglomerar adeptos e adeptas, colaborando assim com a rápida proliferação da doença.
Uma Mãe-de-Santo é alguém que tem como principal atividade e caráter identificatório básico o primeiro nome que compõe o termo composto de sua prática: ser Mãe. Deste modo, sou mãe de meus filhos e de minhas filhas e os interpelo a ficarem em seus lares, uma vez que nossa fé começa em nossos corações. E reitero: a prática religiosa deve sempre privilegiar a vida e sua manutenção, em detrimento do lucro acumulado ou dos projetos expansionistas que angariam fiéis sem refletir nos impactos desta prática em tempos onde o mundo tal qual conhecemos se encontra em estado momentâneo de medo.
Termino esta carta-posicionamento-pela-vida-de-todas-e-todos rogando a todos os Orisas, para que estas forças antigas da natureza nos dêem força e entendimento para verdadeiramente compreender aquilo que vivenciamos hoje, e que cada lar seja poupado desta doença, na esperança de que logo retomemos o fluxo de nossas atividades, mas não identicamente a antes desta pandemia: retomemos mais irmanados enquanto comunidade imbuída do desejo de manter a vida.
Com amor por cada ser desta terra,
Iyalorisa Valéria ty Logun Edé