Assisti agora ao pronunciamento do Bolsonaro, Presidente do Brasil, e queria me dirigir a você que votou nele. Desejaria muito que você buscasse ler essas palavras sem se contaminar de raiva por quem as assina.
Bolsonaro arrisca a sua vida. Ele não arrisca a vida da oposição. Ele arrisca a vida da trabalhadora que cria o filho sozinha e tem que garantir a comida na panela da mãe, dividindo o mesmo teto no bairro da periferia brasileira. Arrisca a vida do caminhoneiro de 50 anos que não tem perfil atlético porque trabalha há 20 anos levando mercadorias Brasil afora. Arrisca a vida do jovem de 20 e poucos anos que pega ônibus lotado para garantir completar os estudos numa sala de aula sem quaisquer condições depois de ter trabalhado 10 horas como entregador de aplicativo.
Bolsonaro arrisca os corpos mais frágeis da sociedade brasileira, os mais pobres, os negros, os que pegam ônibus, os que entregam encomendas, "os que levam esse país no braço", os que moram nas comunidades periféricas, nos assentamentos precários, os que dividem a casa com muita gente porque morar com pouca gente é privilégio. Ele não tem respeito nem cuidado com você. Além disso, Bolsonaro mostrou desprezo a você que é médico, enfermeiro, auxiliar e técnico de enfermagem. Ele desprezou seu trabalho e seu risco.
Ele pisa na pesquisa e na ciência. Não porque seja burro, mas porque ele serve a outros interesses. Bolsonaro pode ser debochado, mas ele é um debochado que fez uma opção. Ele resolveu proteger os ricos, o "andar de cima", o grande capital. Ele sabe que o povo não o segura mais. Portanto, ele tem que se segurar em alguém. Ele ataca a imprensa não só porque é autoritário, mas porque assim ele esconde de você a quem ele serve. Ele não serve a quem votou nele. A opção assassina que ele fez hoje atende ao grande capital.
Ele fez o cálculo para sobreviver: a sociedade não o quer mais. Quem, portanto, poderá mantê-lo na presidência? O capital. O mesmo capital que tirou a previdência e o pouco de direitos sociais. Ele jogou alto. Mas nós vamos deixar ele ganhar? Cuide de si e dos seus. Mas cuide, sobretudo, da sua dignidade. Ser ingênuo agora é um erro terrível. Você pode ser de direita, centro, conservador, liberal, qualquer coisa. Não pode se abraçar com seu assassino. Fica a dica. Parar Bolsonaro é tão importante quanto parar o vírus. Ele é o vírus. O vírus violento da injustiça e da covardia. Vamos pará-lo antes que ele nos mate a todos. (Texto: Renato Roseno / Foto: Divulgação)