“Somos herdeiros dos derrotados da história”. Foi com essa valentia e nitidez que Walter Benjamin profetizou um estar no mundo. Para alguns de minha geração, sabíamos que nos encontrávamos, assim como tantos outros antes de nós, encurralados entre superar o totalitarismo estalinista ou sucumbir à catástrofe capitalista.
Foi quando conhecemos a tradição renovada dos socialistas internacionalistas que teimosamente se localizam sob as diversas tentativas de uma IV Internacional. Por sua vez, já eram esses herdeiros da oposição de esquerda das décadas de 1930 e 1940, que havia sido massacrada pelo estalinismo e pelo nazifascismo.
Alguns viveram a experiência das irrupções de 1968 e entraram para o rol dos derrotados, mas também daqueles que ousaram pensar um mundo e, particularmente, uma esquerda renovados.
Daniel Bensaid foi um desses - herético e irredutível. Tratava de olhar o mundo com uma esperança teimosa. Diante da incerteza, adotava um empirismo consciente de fazer apostas que poderiam nos permitir viver a liberdade. Consciente, pois seu olhar baseava-se em rigorosa e coerente análise e opção por todas as liberdades e contra todas as opressões e explorações. Denunciou as vacilações e conciliações. Olhou o passado da tradição da oposição de esquerda e do marxismo quente e entendia que devia renovar-se.
Bensaid, de maneira esperançosa, vibrou generosamente com as insurreições latino-americanas e asiáticas e para todas as lutas dos desviados e desterrados que um esquerda totalitária havia renegado. Viu a potência revolucionária de agregar todas as lutas e movimentos contra as explorações econômicas, o exterminismo bélico ou ambiental e as opressões.
Como quer Bensaid, a indignação é um sempre um bom alimento para a jornada. É na experiência vivida, auto-organizada e solidária dos indignados que se renova a tradição revolucionária e onde se possibilita o encontro, em muitos portos do mundo, daqueles que, atormentados, teimamos em amar a revolução. (Por Renato Roseno)