Hoje é o Dia Internacional do Orgulho LGBT, data histórica do movimento de resistência e luta por direitos da população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros. Nesta data, há 48 anos, no Bar Stonewall Inn, em Nova Iorque, a comunidade LGBT se levantou e reagiu à agressão policial. A polícia os perseguia, prendia e agredia havia anos. Naquele momento, a comunidade disse um sonoro “Não!”, o que deu origem à rebelião de Stonewall, o primeiro e mais simbólico ato de resistência coletiva LGBT. No ano seguinte, em homenagem a este ato de resistência, realizou-se a primeira Parada do Orgulho LGBT, realizada até hoje em diversas capitais do mundo.. Em São Paulo, acontece a maior Parada LGBT do Brasil; no Ceará, temos também uma das maiores Paradas do Orgulho LGBT do país, organizada, anualmente, pelo Grupo de Resistência Asa Branca – GRAB.
Homossexuais, lésbicas, travestis e transexuais ainda são profundamente discriminados e estigmatizados no Brasil. A despeito de pequenos avanços, a cidadania a que estas pessoas tem acesso, sobretudo as travestis e transexuais, ainda é muito precária. Segundo a ONG Transgender Europe, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Além disso, segundo o Grupo Gay da Bahia, uma pessoa LGBT morre a cada 26 horas no Brasil. Morrem exclusivamente em decorrência do estigma, da LGBTfobia e do ódio que recai sobre a sexualidade dessa população. O Dia do Orgulho LGBT surgiu como uma data de luta e tem se mantido assim ano após ano. Em um mundo onde a homossexualidade é criminalizada em 38 países, em um país onde travestis e transexuais têm estimativa de vida de 35 anos e a transexualidade é considerada como patologia, ainda há, sem dúvida, muita luta a construir.
A luta pelos direitos da comunidade LGBT não diz respeito somente à comunidade LGBT; ela é, sobretudo, uma luta pelo alargamento da noção de humanidade. Todos e cada um de nós, comprometidos com um mundo de justiça social, temos o dever de encampar esta luta, pois é inadmíssivel que existam pessoas que não tenham acesso aos mais básicos direitos, como o direito ao nome e o direito à identidade. A luta LGBT é, antes de tudo, a defesa de uma democracia plena, em que todos possam acessar uma cidadania plena e viver no mundo livremente, em segurança, com sua dignidade e acesso aos bens comuns garantidos pelo Estado e com condições de desenvolver a si mesmos e suas capacidades sem interferência do ódio ou da violência de gênero.
Só neste ano, no Estado do Ceará, morreram 8 travestis vítimas da transfobia e das vulnerabilidades a que esta população está exposta por causa do abandono do Estado e do ódio coletivo direcionado a elas: Hérika, Dandara, Jeff, Keitlin, Priscila, Salomé, Paulete e Paola, todas elas mortas de forma brutal, com uma crueldade que expressa o íntimo da natureza desta violência: o ódio. No começo deste mês, um casal gay foi expulso do Centro Cultural Belchior porque estava se beijando. O caso foi denunciado e está sendo acompanhado pelo Centro de Referência Janaína Dutra, mas é simbólico que, ainda hoje, uma simples demonstração de afeto possa despertar tanto incômodo. Há um desafio na cultura e, sabemos, as práticas culturais levam anos para serem modificadas. Contudo, temos condições de garantir a segurança e a vida destas pessoas, de conscientizar e construir ferramentas de garantia da existência livre destes sujeitos.
O Estado do Ceará carece de políticas de atendimento à comunidade LGBT. A mera existência de uma Coordenadoria Especial de Políticas LGBT não é suficiente: é preciso um Centro de Referência, é preciso haver garantias legais de amparo e investimentos em inclusão laboral, pois sabemos que a conquista da dignidade passa, necessariamente, pela conquista da renda. Há muito o que avançar nas pautas LGBT. Não há Estado Democrático onde uma parcela imensa da população está submetida ao medo, a condições desumanas de existência, ao estigma e à discriminação.