O Brasil vive uma falta generalizada de medicamentos e de exames para pacientes com HIV e AIDS. No Ceará, a projeção é que os insumos necessários para a realização dos exames sé estejam disponíveis até o próximo dia 15 de agosto. A denúncia é de entidades que compõem a Articulação Nacional de Luta Contra a AIDS (ANAIDS) e a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV (RNP) e que promovem hoje, durante o Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Política Brasileira de AIDS, uma série de atos em todo o Brasil .
A data é uma referência ao sociólogo Herbert José de Sousa, o Betinho, uma das mais importantes referências na luta contra a Aids, falecido há exatos 20 anos, em 9 de agosto de 1997. As comemorações começaram ontem no Ceará, quando houve uma manifestação em frente ao Hospital São José; e seguem hoje em todo o Brasil. As entidades estão denunciando o desmonte do SUS e o descaso e a negligência dos três níveis de governos com os pacientes e com as políticas públicas de AIDS. A realidade hoje no Brasil é de uma generalizada falta de medicamentos, leitos, acesso à exames e políticas de prevenção. As entidades reclamam, em particular, da falta de medicamentos antirretrovirais, que são fundamentais para o tratamento e a qualidade de vida dos pacientes; e dos exames de carga viral, outro instrumento decisivo para o acompanhamento dos casos de HIV e AIDS.
No último mês de junho, o Ministério da Saúde promoveu um verdadeiro racionamento dos exames, estabelecendo prioridade de realização apenas para crianças de 0 a 18 meses e para gestantes. No Ceará, as entidades estão denunciando que, mesmo para esse público prioritário, só há insumo para a realização desses exames até o próximo dia 15 de agosto. "Assistimos ao crescimento da aids, principalmente entre jovens e nas populações vulneráveis, com o aumento de mortes e de casos, na contramão dos dados globais", diz uma carta divulgada pela Anaids.
"Reconhecemos as conquistas obtidas nas últimas três décadas, fruto da mobilização social e da pressão política, mas não podemos fugir à atual realidade, em que estas mesmas conquistas estão, a cada dia, ameaçadas em função do retrocesso e da falta de comprometimento que se abate sobre as políticas de saúde em geral e do enfrentamento à epidemia de aids em específico", alerta o movimento. Em todo o Brasil a população vivendo com HIV passou de 700 mil para 830 mil entre 2010 e 2015, com 15 mil mortes de aids por ano, quase duas mortes por hora.
Para as entidades, os recentes episódios em todo o país de falta dos medicamentos antirretrovirais, cujo acesso universal é garantido por lei e sinônimo dos bons resultados alcançados pela resposta à Aids no Brasil, exigem uma reação da sociedade. "É preciso combater o preconceito e a aidsfobia que ganham cada vez mais vulto no Brasil. Caso contrário, teremos um quadro extremamente negativo da atual realidade de quem vive com HIV e aids em nosso país", diz a nota.