O Ceará é o primeiro estado do Norte e Nordeste e o quinto do país em casos de suicídios. Para se ter ideia da gravidade dos números, em 2015, segundo dados da Secretaria de Saúde, 32 pessoas morreram devido à dengue no estado; no mesmo período, 565 tiraram a própria vida. Considerando a subnotificação dos dados oficiais, muito comum quando se trata desse tipo de óbito, e também o avanço da depressão como doença incapacitante, sobretudo entre os adolescentes, as estatísticas envolvendo os suicídios no Ceará revelam um grave problema de saúde pública que desafia pais, médicos e educadores.
Na manha da última quarta-feira (14), a Assembleia Legislativa lançou a Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Mental e Combate à Depressão e ao Suicídio. O colegiado é formado por nove parlamentares e foi organizado a partir de um requerimento do deputado estadual Evandro Leitão (PDT). O objetivo é sensibilizar a sociedade sobre a importância de tratar o tema da saúde mental, em especial questões relacionadas à depressão e ao suicídio, combatendo estigmas relacionados ao tema e estimulando a produção legislativa referente à saúde mental.
"O suicídio é uma das principais causas de morte entre os jovens na segunda década de vida, ao lado dos homicídios e dos acidentes de trânsito. No ano passado, tivemos três suicídios de adolescentes a cada semana", explicou o deputado estadual Renato Roseno (PSOL), relator do Comitê Cearense Pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA) e um dos integrantes da frente parlamentar. "Essas causas externas são previsíveis, portanto são também preveníveis", destacou.
Renato é autor da lei 16185/16, que estabelece no calendário oficial do Estado o "Setembro Amarelo" como mês que marca a importância da conscientização e da prevenção ao suicídio. "A depressão e o suicídio têm raízes profundas e as mais diversas, mas obviamente nós vivemos uma crise existencial, nós somos uma sociedade que sofre uma doença psicopolítica muito grave", afirmou o deputado. "Nós sofremos com o hiperindividualismo, com o hiperconsumismo, com essa produção em larga escala de tristeza, de melancolia e de angústia por um lado. Por outro lado, há dificuldades na rede de saúde mental, nós temos que ampliar os investimentos em atenção psicossocial, em CAPs e RAPs, e não somente na hospitalização, na resposta hospitalocêntrica".
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão será a doença mais incapacitante do mundo até 2020. No Ceará, em 2018, foram concedidos quatro auxílios-doença a cada 24 horas por conta da depressão. Uma das consequências da doença é o atentado cotra a própria vida. Em 2020, a previsão é de que haverá cerca de 1,5 milhão de suicídios no mundo. Na América Latina, o Brasil lidera o ranking, registrando uma alta de 73% no número de casos entre os anos de 2000 e 2016.
"Os dados mostram que o tema é de extrema importância para a sociedade. O poder público não pode ficar alheio a isso", defende o deputado Evandro Leitão. "Abordar o assunto de forma responsável é a melhor saída para amenizar o avanço da depressão e prevenir o suicídio". (Texto e foto: Felipe Araújo)