Da importância de haver vozes de oposição e buscar coerência na vida: nós sempre fomos críticos à "amplíssima" política de alianças que o PT passou a fazer desde meados dos anos 90. Essa política levou as gestões petistas a desenvolver políticas contraditórias: a manutenção da política macroeconômica conservadora (que vinha sendo praticada desde FHC, atendendo à cobiça do rentismo), apoiou o agronegócio e o extrativismo (segmentos exportadores de commodities), a aliança aos conservadores no Congresso e a satisfação dos interesses das corporações midiáticas. Ao mesmo tempo, ampliaram políticas de transferência de renda e algumas políticas sociais. A crise, porém, fez ruir essa arquitetura. O golpe foi dado pelos ex-aliados que passaram a aplicar uma política duríssima e antidemocrática de retirada de direitos.
Diante desse histórico, o que faz um dos cinco governadores que o PT tem? Alia-se aos partidos que patrocinaram o golpe, faz um arco de alianças tão grande que o obrigará a fatiar qualquer naco do aparelho do estado para atender à sanha fisiologista. Nada mais típico e convencional na política brasileira.
Somos pequenos no cenário e sabemos disso. Mas devemos manter a coerência e não ceder ao medo nem a um pragmatismo vazio de dignidade. Nós levamos o #LulaLivre a sério, mesmo não sendo ele nosso candidato. É preciso manter as nossas poucas vozes de oposição de esquerda e fortalecer os novos sujeitos. Penso que muita gente não entendeu o terremoto que foram as manifestações de junho de 2013. Nem todos foram capturados pela retórica conservadora.
Há um desejo antissistêmico de profundas alterações estruturais, de contra-hegemonia. Na ausência de uma nova esquerda radical e popular, muito desse sentimento antissistêmico está sendo capturado pela retórica da anti-política encarnada pela extrema-direita. Fazer esse arco que Camilo faz no Ceará é deseducativo. Impulsiona a despolitização. Faz crescer a ideia de que "é tudo igual". Quem ganha com essa despolitização? A extrema-direita. Pode até facilitar sua própria reeleição, mas Camilo ajuda a jogar água no moinho da anti-política.
Quem quer fazer o novo não repete o velho.