A vereadora carioca Marielle Franco (PSOL-RJ) foi morta a tiros na noite dessa quarta feira, 14, no bairro do Estácio na cidade do Rio de Janeiro. Além da vereadora, o motorista do veículo, Anderson Pedro Gomes, também foi baleado no atentado e morreu. Quinta vereadora mais votada nas eleições de 2016, Marielle Franco era reconhecida por sua histórica luta em defesa dos direitos humanos, especialmente em defesa dos direitos das mulheres negras e moradores de favelas e periferias, e por suas denúncias da violência policial.
A direção nacional do PSOL lançou nota manifestando o pesar diante da morte de Marielle e de Anderson Pedro Gomes, o motorista que lhe acompanhava. “Estamos ao lado dos familiares, amigos, assessores e dirigentes partidários do PSOL/RJ nesse momento de dor e indignação. A atuação de Marielle como vereadora e ativista dos direitos humanos orgulha toda a militância do PSOL e será honrada na continuidade de sua luta”, diz a nota.
Segundo o PSOL, não é possível descartar a hipótese de crime político, ou seja, de execução. “Marielle tinha acabado de denunciar a ação brutal e truculenta da PM na região do Irajá, na comunidade de Acari. Além disso, as características do crime com um carro emparelhando com o veículo onde estava a vereadora, efetuando muitos disparos e fugindo em seguida reforçam essa possibilidade. Por isso, exigimos apuração imediata e rigorosa desse crime hediondo. Não nos calaremos!”
Nos dias que antecederam seu assassinato, Marielle vinha denunciando a intervenção federal e a violência na cidade. E também questionando a ação da Polícia Militar. "Mais um homicídio de um jovem que pode estar entrando para a conta da PM. Matheus Melo estava saindo da igreja. Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?", escreveu no twitter comentando a morte do jovem Matheus Melo, assassinado na favela do Jacarezinho após sair da igreja com a namorada.
Também nas mídias sociais, Marielle classificou o 41° Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro de "Batalhão da morte". "O que está acontecendo agora em Acari é um absurdo! E acontece desde sempre! O 41° batalhão da PM é conhecido como Batalhão da morte. CHEGA de esculachar a população! CHEGA de matarem nossos jovens", escreveu.
APURAÇÃO - “Nós vamos cobrar a apuração desse crime bárbaro. Marielle era uma parlamentar mulher, negra, que tinha raiz em comunidades periféricas, que denunciava as violações dos direitos humanos e que foi executada numa cidade sob intervenção federal”, manifestou-se Renato Roseno, deputado estadual licenciado (PSOL) e que viajou para o Rio de Janeiro na madrugada desta quinta-feira para acompanhar a despedida à Marielle.
Em Fortaleza, uma vigília foi marcada para a praça da Gentilândia, no bairro Benfica, no fim da tarde de quinta-feira (15). O ato foi articulado em parceria com movimentos feministas e de mulheres, movimentos sociais e sindicatos e integrou um calendário de manifestações que acontecerão simultaneamente em todo o País ao longo do dia. “A ideia é fazer uma homenagem a Marielle e reafirmar a continuidade de sua luta. Não nos calarão com essa violência”, afirmou o deputado estadual Nestor Bezerra (PSOL).
Segundo Roseno, toda morte por execução é "covarde". É uma tática através da qual os mandantes e executores tentam calar a vítima e a todos no seu entorno. "É a demonstração de poder dos covardes. O assassinato da Marielle foi um atentado à democracia, a nós, ao Brasil. Mataram covardemente uma mulher negra, jovem, lutadora de uma das comunidades mais emblemáticas do Rio de Janeiro. Mataram porque ela encarna o insuportável para a covardia que toma conta desse país: a emancipação de si mesma, a resistência das comunidades, a libertação de tantas mulheres negras que se veem nela" classificou.
"Sua morte demonstra quão profundo é o golpe e como a intervenção nada resolve. Precisamos estar unidos e fortes. Executaram uma porta-voz da denúncia do arbítrio e das violações de direitos humanos numa das principais cidades do Brasil. Com esse ato brutal, eles achavam que iriam nos calar. Marielle, não nos calarão. Hoje choramos, mas não podemos vacilar um segundo", concluiu.
REPERCUSSÃO - Em nota, a Anistia Internacional cobrou a investigação do assassinato. “O Estado, através dos diversos órgãos competentes, deve garantir uma investigação imediata e rigorosa do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro e defensora dos direitos humanos Marielle Franco”, diz o texto. “Não podem restar dúvidas a respeito do contexto, motivação e autoria do assassinato de Marielle Franco”.
Já a Defensoria Pública da Unão destacou que Marielle "protagonizou incansável luta pela garantia dos direitos humanos e contra desigualdades" e classificou como "alarmante" o histórico de execuções de defensores de direitos humanos no Brasil. "A imediata apuração da autoria do crime e de todas as suas motivações e circunstâncias é medida imperativa, pois não há dúvidas de que o homicídio de uma parlamentar eleita e no exercício do seu mandato configura inaceitável violência contra o próprio Estado Democrático de Direito", manifestou-se a entidade.