Audiência pública sobre a mineração de urânio e fosfato em Santa Quitéria discute riscos à saúde e ao ambiente

17/11/15 17:06

Mesa composta pelo deputado estadual Renato Roseno e outros convidados para a audiência pública, com cartazes ao fundo contra o projeto de mineração

Aconteceu nesta segunda-feira, dia 16 de novembro, às 9h, audiência pública sobre a mineração de urânio e fosfato em Santa Quitéria. A atividade foi parte da programação da I Jornada Antinuclear do Ceará e requerida pelo mandato É Tempo de Resistência (Deputado Estadual Renato Roseno - PSOL). Estiveram presentes representantes das duas empresas responsáveis pela obra, a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e a Galvani, da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), da Universidade Estadual do Ceará (Uece), do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MST), da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), do Ibama, do núcleo Tramas, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Articulação Nacional Antinuclear, bem como várias das mais de 150 comunidades afetadas pela obra da usina.

O projeto vem provocando inúmeras preocupações na população local, principalmente no que tange aos impactos do empreendimento e possíveis violações a um amplo espectro de direitos humanos e sociais envolvidos, tais como o direito à saúde, ao trabalho digno, ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, ao acesso à informação integral e qualificada, à segurança no transporte do urânio, dentre outros.

"Eu acho um absurdo alguém estar aqui cogitando qualquer empreendimento que use essa quantidade indecente de água, numa época de crise hídrica dessas! Isso tem nome: injustiça hídrica. Chega de tanto argumento falso – nós queremos justiça hídrica, justiça ambiental!", declarou Alexandre Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE), em resposta a alegação de Francisco Teixeira, da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), que afirmou haver viabilidade hídrica para o funcionamento do empreendimento.

Alexandre apontou ainda falhas graves no relatório de viabilidade hídrica apresentado pela Companhia, como a medida inicial de 70% da capacidade dos reservatórios quando, na verdade, eles se encontram apenas com 14%. A previsão é que a usina de Santa Quitéria use o correspondente a 125 carros pipa por hora.

A obra é um consórcio entre a empresa privada Galvani e a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) – empresa estatal que detém o monopólio de atuação na área nuclear. A INB também foi responsável pela construção da obra da usina nuclear de Caetité, interior da Bahia. Zoraide Vilasboas, moradora de Caetité e integrante da Articulação Nacional Antinuclear, deu seu depoimento durante a audiência. “A empresa chegou lá, prometendo a redenção de um sertão sofrido, assim como está acontecendo aqui. Mas o que nós percebemos, nesses últimos anos, é um grande aumento no número de acidentes com vazamentos de material radioativo, contaminação da água, da fauna, da flora, aumento no número de casos de câncer”, disse.

"Eu sou contra esse modelo de desenvolvimento porque gera pobreza e adoecimento pro nosso povo. Desenvolvimento pra quem? Isso é desenvolvimento? Me parece que não – é uma forma de acumulação de capital", afirmou o deputado Renato Roseno.

Durante toda a audiência, com massiva participação das comunidades de Santa Quitéria e imediações, ouviu-se o grito da população. O grito por um desenvolvimento que não priorize o lucro e o capital, que não coloque em risco o povo. Ouviu-se a organização, bradando a plenos pulmões: xô nuclear!

Áreas de atuação: Meio ambiente