No dia em que o Brasil lembra os 51 anos do golpe militar que depôs o presidente João Goulart, o deputado Renato Roseno (PSOL) usou a tribuna da Assembleia Legislativa para lamentar que as repercussões do período ditatorial se estendam até hoje. Ele considera preocupante que propostas golpistas e uma agenda excessivamente conservadora venham à tona com tanta força no atual momento político do país.
"Eu lamento que, 51 anos depois, aqueles que, por ingenuidade, má-fé ou ignorância, ocupem as ruas para falar de golpe e supressão da democracia e aproveitem para defender uma agenda ultraconservadora, como a redução da idade penal, de direitos do mundo do trabalho e da proteção social do Estado", aponta Renato.
O parlamentar defendeu no plenário do Legislativo estadual nesta terça-feira, 31 de março, o fortalecimento da democracia. "Muitas pessoas acham que o golpe de 64 foi para salvar o Brasil, mas a sociedade só melhorou quando foi democrática", avalia o parlamentar do PSOL. No período da ditadura, que se estendeu até 1985, milhares de brasileiros foram presos ou torturados, centenas foram mortos ou ainda estão desaparecidos e as instituições foram amordaçadas. O deputado apresentou um requerimento de informações à Secretaria da Justiça do Ceará sobre o pagamento para ex-presos políticos da ditadura militar.
"Golpear é atitude de covardes, de quem tem medo das urnas", definiu o deputado, chamando atenção de que Jango tinha uma agenda de reformas que ainda hoje é necessária, como a reforma educacional e a reforma agrária. Renato Roseno considera que houve um conluio de setores do empresariado e das Forças Armadas sob o patrocínio de interesses do governo dos Estados Unidos. "A cozinha da embaixada foi utilizada para golpear a democracia do Estado brasileiro".
No entendimento de Renato Roseno, propostas, como a redução da idade penal, representam um entulho autoritário da ditadura, advindas do passado, e revelam também a falência de um sistema de justiça e segurança pública, que não se modernizou. "Nosso problema não é editar mais leis penais, mas cumprir os princípios das leis que já existem", contrapõe-se, argumentando que o Brasil tem a terceira população de detentos do mundo e a explosão carcerária não melhorou a sociedade. "Não queremos a paz do cemitério, mas a paz da justiça, que se conquista com participação política, criação de oportunidades e oferta e garantia de direitos para todos e todas, para uma vida digna e feliz, não na dor e no sofrimento".