Carta aberta: por que sou novamente pré-candidato a deputado estadual

25/05/18 08:45

Eu tenho tido contato com a esfera política desde a adolescência. A história do Brasil me foi generosa. Fui adolescente no período da redemocratização e início da Nova República. Vi no Ensino Médio a Constituinte e todas as diversas lutas que giraram em seu entorno. Entrei na universidade quando da primeira campanha presidencial pós-ditadura militar. Era impossível não ter uma posição sobre o futuro do Brasil. Respiravam-se outros ares. A ideia de um novo futuro era palpável. Minha convicção de militância nas organizações de direitos humanos e na militância socialista foi forjada desde então. Sou muito grato aos coletivos dos quais fiz parte. Mas muito do nosso horizonte utópico ficou circunscrito à vitória do governo central. Os limites dessa escolha foram se evidenciando com o passar dos anos. Entendemos, desde então, que o Brasil não era somente um problema de gestão. É algo mais profundo e complexo, que demanda reformas estruturais e transformações profundas.

O fim da Nova República veio entre trágico e melancólico. O golpe de 2016, arquitetado por setores conservadores e afiançado pelo Judiciário e pela mídia hegemônica, demonstra que a ausência dessas reformas estruturais (política, agrária, tributária, das comunicações e tantas mais) fortaleceu os de sempre e derrotou os de sempre. A ideia da conciliação por cima e do "ganha-ganha" baseado na manutenção de um macroeconomia conservadora não nos legou uma sociedade mais democrática. Temos hoje as vítimas de um modelo econômico concentrador, destrutivo e violento. A ampliação do mercado de consumo de massas não gerou cidadania, muito menos politização da consciência social. O PSOL nasce dessa etapa histórica. Mas as diferenças não nos impediram de travar o combate contra o golpe e fazermos a denúncia de uma de suas principais demonstrações: o impedimento da candidatura de Lula por meio de sua prisão. Os motivos de nossa fundação estão mais presentes hoje que antes. É preciso fazer o balanço crítico do passado, resistir aos ataques do presente e traçar outro horizonte de futuro, que dê esperança, encante e mobilize a sociedade. Queremos fazer parte do movimento de construir outro futuro.

Nesses tempos difíceis, construímos a nossa resistência coletiva ocupando as ruas e também, pela primeira vez, a Assembleia Legislativa do Ceará. A frase que escolhemos para nos orientar foi: “É tempo de resistência”. Foi o lema de nossa campanha e continuamos com essa frase em nosso mandato. Não poderia haver outra forma de sintetizar o que vivemos. Foram quatro anos muito intensos, de aprendizados, acertos e erros. Percorremos mais de 100 municípios, contribuímos nas mais diversas lutas: trabalho, água, meio ambiente, terra, território, direitos humanos em todas as dimensões, trabalhadores, democracia... Optamos por um mandato perto das comunidades em luta, dos territórios em luta, das muitas periferias e com suas comunidades. Ecoamos muitas vozes, apresentamos muitas ideias construídas a muitas mãos. Na arena do parlamento, fomos voz isolada em diversas batalhas. Fomos derrotados muitas vezes, mas vitoriosos em outras, sempre junto com as e os que lutam. Batalhamos contra o extermínio da juventude e por outra lógica de segurança cidadã; lutamos para que a água não seja tratada como mercadoria, mas como direito humano; denunciamos as diversas violações da dignidade humana seja por omissão, seja pela ação do arbítrio e da intolerância; partilhamos as lutas de trabalhadores do campo e da cidade pela promoção do trabalho digno e justa distribuição da riqueza. A vida está dura e cada trincheira que ajudamos a erguer na luta por direitos e justiça social e ambiental significa muito.

2018 veio e fizemos uma aliança ousada com os movimentos sociais que nos permitiu Guilherme Boulos e Sônia Guajajara como nossos porta-vozes presidenciais. No Ceará, teremos Ailton Lopes como nosso porta-voz ao governo, ao lado de Anna Karina. Combinamos lutas e trajetórias com o desejo de seguir construindo um caminho novo para o Brasil e o Ceará, que rompa com a brutal desigualdade, a opressão e a lógica de retirada de direitos que temos vivido. Meu papel neste ano não foi pensado isoladamente. Foi fruto, como sempre, de uma decisão coletiva. Após muito ouvir e refletir com muitas pessoas e coletivos que constroem conosco essa caminhada, chegamos à conclusão da necessidade de continuar emprestando nossa voz, energia e militância às lutas e movimentos que ocupam nosso território. Um território tão desigual e marcado por tantas violências, mas tão potente. Entendemos que ainda há muito a ser feito em termos de oposição ao modelo de que domina o Ceará e que não mudou nas últimas décadas.

É tempo de re-existência. É com o desejo de começar, desde aqui, outra história que vamos postular a reeleição à Assembleia Legislativa. A conjuntura é ainda mais difícil do que em 2014. A execução de Marielle e a violência contra diversas lideranças populares, os ataques aos direitos conquistados, a onda de autoritarismo nos desafiam. No Ceará, os grupos que controlam a máquina política esquecem momentaneamente seu passado e aliam-se vergonhosamente para a divisão do aparato governamental, juntando golpistas e golpeados. Somos, mais uma vez, voz isolada na denúncia dessa forma de fazer política, que atrela nosso futuro aos acordos de ocasião e nos impede de pensar uma política e uma sociedade radicalmente diferentes, construídas desde baixo.

Aceitei o desafio porque precisamos de oposição de esquerda, precisamos dar o bom combate no parlamento e nos territórios de lutas, precisamos mostrar nossas alternativas de justiça social, democráticas, populares e ambientais. Por isso me apresento mais uma vez como pré-candidato a deputado estadual. Mas não vou só. Nosso desejo é de que essa campanha seja abraçada novamente por todas as organizações e pessoas com quem temos dividido as lutas diárias e o sonho de outro mundo. Se a utopia está no horizonte, queremos dar passos juntas/os em sua direção. Queremos que esse caminho seja intenso, alegre, educativo e, sobretudo, coletivo.

Deixo aqui, portanto, um convite e uma convocação: vamos seguir resistindo de mãos dadas! Seguimos lutando por terra e territórios livres e justos; por meio ambiente protegido; por trabalho digno; por direitos humanos para todos e todas; por poder popular. Seguimos com Boulos, Guajajara, Ailton, Anna Karina, Jamieson e Bené sem medo de mudar o Brasil e mudar o Ceará. Seguimos juntos porque é assim que podemos avançar: com firmeza e audácia.

(Foto: Max Rodrigues)

Áreas de atuação: Política