Chacina em Fortaleza: por apuração imediata, proteção às famílias das vítimas e não ao toque de recolher

13/11/15 18:37

Deputado estadual Renato Roseno fala durante vídeo sobre chacina na Grande Messejana

Pelo menos 12 pessoas mortas na Grande Messejana, segundo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará, mas o número pode chegar a 18, computando outros casos de homicídios por toda a Fortaleza. Um dia depois da chacina registrada na capital, entre a noite de 11 novembro e a madrugada seguinte, o deputado estadual Renato Roseno (PSOL), membro da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa, divulga vídeo com reflexões sobre a situação de violência pela qual passa a cidade. Para acessar o canal, clique aqui.

"É muito difícil ter serenidade num momento como esse, sobretudo organizar as ideias e as ações necessárias para enfrentar esse caos que foi instalado na nossa cidade", avalia o deputado, sobre a maior chacina da história de Fortaleza que se tem conhecimento, que deixou vítimas nas comunidades do Curió, da Lagoa Redonda e do Guajeru.

Sem deixar de atentar que é preciso serenidade para o enfrentamento ao problema, o parlamentar lembra que a violência na capital não é ocasional, não surgiu de repente, pois os levantamentos feitos a partir de dados oficiais mostram que Fortaleza tem a maior taxa de homicídios na população em geral - 77 para cada 100 mil habitantes/ano - e entre adolescentes - 9,92 por grupo de mil pessoas na faixa etária de 12 a 18 anos. "Portanto, essa violência que aconteceu ontem (11 e 12 de novembro) não é ocasional, mas fruto de um histórico de exclusões, violência institucional e abandono, de ausência de uma política de segurança humana, baseada, sobretudo, na justiça, na realização de direitos".

Ao observar que o problema é estrutural, de longo prazo e grandes proporções, Renato Roseno cita que o elevado número de mortes de policiais é também um indicador importante. "O policial que morreu já é o 13º só este ano. Portanto, nós temos instalada na cidade hoje uma situação de muita morte, de banalização da morte, e que acaba acendendo em nós pânico, medo e também ideias absurdas de tentar resolver a violência com mais violência", questiona.

O deputado considera que o primeiro esforço do Governo do Estado deve ser a investigação imediata sobre os crimes. "Não foi só no território do Curió em que se registraram execuções. Na cidade inteira registraram-se execuções - fala-se agora em 18 mortes. Portanto, precisamos de investigação imediata, rigorosa, transparente, independente, daí a necessidade de envolvermos inclusive instância nacionais nesse esforço", sugere.

O segundo encaminhamento é proteger as famílias das vítimas. "Está instalado um clima de pânico e silenciamento das famílias. Essas famílias estão dizendo, por vários canais, que as suas vítimas, os seus filhos que morreram, grande parte adolescentes e jovens, não tinham nenhuma relação com o mercado ilícito de drogas - não eram traficantes, com a rede de crimes. Portanto, é muito importante fortalecer, valorizar, proteger essas vozes, inclusive pra auxiliar na investigação. Há necessidade de que o sistema de proteção a essas pessoas funcione. Isso é responsabilidade do Estado e também da União".

Em terceiro lugar, o deputado estadual Renato Roseno afirma que é preciso garantir a tranquilidade da população para não reforçar a lógica do medo, do pânico e da violência. "Ontem, às 18h, 18h30min, já havia toque de recolher em alguns territórios, como o Curió e o São Miguel. Isto é inadmissível. A gente não pode naturalizar essa lógica indigna de pânico e de violência. A paz não é fruto do medo e da violência, ela tem que ser fruto da justiça".

Em função da chacina na Grande Messejana, a rotina das comunidades foi alterada e, inclusive, algumas linhas de ônibus tiveram o itinerário modificado. "É um absurdo que hoje, em pleno 13 de novembro de 2015, a gente tome conhecimento que até as linhas de ônibus foram suspensas, tiveram seus itinerários alterados, em razão dessa lógica do toque de recolher".

Com um histórico de mais de 20 anos de militância na área de direitos humanos e estudos das questões de segurança pública, Renato Roseno considera que é necessário enfrentar todos os tipos de violência. "Eu sei que o momento é de muita dor, de muita confusão, mas é necessário arrancar forças, pra dizermos que queremos, sim, o fim do extermínio da juventude, o fim dessas mortes... Nós não queremos nenhum tipo de violência, seja a violência institucional, a violência nos territórios, a violência interpessoal, a violência comunitária. O que nós queremos, sobretudo, é que todas as pessoas, os jovens, os policiais, as famílias, os trabalhadores, todos possam ter uma vida em paz".

Ao prestar solidariedade às famílias de todas as vítimas, o deputado estadual conclamou a população a reagir. "Queremos convidar a todos para essa nossa reação, que não pode ser uma reação violenta, tem que ser uma reação de justiça, de paz e solidariedade, porque só assim a gente vai ter algum futuro".

Áreas de atuação: Direitos Humanos, Juventude, Justiça, Segurança pública