"Se eu não puder viver do teatro, vou viver para ele". A fala de Vicente Júnior, jovem morador de um assentamento do INCRA, corta a plateia e revela o desejo e a presença da arte na vida da juventude rural. Não apenas como espaço de criação de sentidos, mas também de afirmação de empoderamento e de autonomia.
Ao lado de Gefeson Emanuel, outro jovem morador de assentamento, Vicente foi um dos palestrantes da primeira edição do ciclo de debates “Arte, cultura e política”, realizado pelo mandato É Tempo de Resistência, do deputado estadual Renato Roseno. O debate, que teve como tema a relação entre a arte e as juventudes rurais, aconteceu na última segunda-feira no espaço cultural Cena Casarão, no Centro de Fortaleza.
Para Renato Roseno, é fundamental a aproximação e o diálogo entre as juventudes rurais e urbanas, em particular, num momento em que “as mídias e redes sociais possuem tanta influência nas narrativas de vida, minimizando as distâncias entre elas, geográficas e simbólicas”.
Uma das ações destacadas durante o debate foi o Projeto Arte e Cultura na Reforma Agrária (PACRA/INCRA), que tem como coordenadora Silma Magalhães, uma das convidadas do evento. Para Silma, uma das grandes dificuldades para as juventudes rurais, é o processo de invisibilização do campo, além da “influência do patriarcado nas famílias rurais” e das “referências urbanas, que acabam por determinar muitas narrativas simbólicas para essas juventudes”.
Outro palestrante da noite, o teatrólogo e professor Fernando Leão apresentou a experiência do Núcleo Tramas (Trabalho, Meio Ambiente e Saúde), da UFC, no projeto “Meio Ambiente, Saúde, Comunicação e Cultura – Transformações Territoriais e a Juventude no Sertão Central Cearense”, aprovado em edital do INCRA para ações de fortalecimento da juventude rural. “A democratização da cultura é fator de redução da vulnerabilidade imposta às juventudes do campo pela lógica desenvolvimentista”, defendeu Fernando.