A interdição do debate com a sociedade tornou-se uma das marcas do governo Camilo Santana. Não só pela dificuldade no fornecimento de informações públicas, mas pelas seguidas e diligentes manobras da base governista em rejeitar até os mais simples requerimentos para a realização de visitas técnicas e audiências públicas. Na manhã desta quarta-feira, o governo voltou a passar seu trator aliado no parlamento. Em mais uma movimentação surpreendente da base governista, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Semiárido da Assembleia Legislativa rejeitou dois requerimentos de autoria do deputado Renato Roseno (PSOL). Um deles requeria a realização de uma audiência pública para debater os impactos ambientais e socioeconomicos da obra do Acquário de Fortaleza; e o outro pleiteava uma visita técnica dos parlamentares às tuneladoras da linha leste do metrô de Fortaleza.
Na semana passada, os governistas já haviam rejeitado, na mesma comisssão, um requerimento que pedia a realização de audiência pública para discutir a situação de abandono dos chamados "tatuzões". Essas tuneladoras foram adquiridas ainda no governo Cid Gomes para a construção da linha leste do metrô de Fortaleza mas nunca foram utilizadas e se encontram abandonadas, inclusive com registro de roubo de seus componentes. Com a surpreendente rejeição do requerimento, afinal tratava-se apenas de um pedido para que o tema fosse discutido com a opinião pública, Renato decidiu propor uma visita técnica, para que os parlamentares pudessem comprovar a real situação dos equipamentos. De forma autoritária, o pedido também foi negado e a discussão, mais uma vez, comprometida.
"Os deputados que perfazem a base do Governo Camilo não usaram da palavra para discutir. Simplesmente votaram contra. Eu não me incomodo com minha condição de minoria política. Sempre vivi assim. Mas sequer argumentar ou debater??!", avalia Renato, que também teve seu requerimento sobre as obras do Acquário rejeitado pela comissão. Segundo o parlamentar, a construção, além de ser objeto de inúmeros questionamentos no Ministério Público e mesmo no âmbito judicial, transformou-se num foco de vetores de doenças para a comunidade do entorno, em particular, os moradores do Poço da Draga. "Quando o Governador orienta sua base de apoio para isso, levanta suspeitas múltiplas. Dá um tiro no próprio pé. Coloca seus deputados em uma situação no mínimo constrangedora e sinaliza que o 'Governo do Diálogo' somente aceita conversa sobre aquilo que lhe dê conforto. O que lhe causa desconforto é silenciado", afirma Renato.