“O defeito é querer combater o efeito, não a causa. Quando eu era criança, existiam projetos sociais que investiam na juventude. Eramos um coletivo de 40, hoje só 10 estão vivos. Quanto mais jovem morre, menos investimento vem pras políticas públicas da juventude. A sociedade civil perde, a população perde e a juventude morre”, declarou ontem, durante a primeira audiência do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, o morador do Bom Jardim, Wilbert Santos.
A audiência, realizada no Complexo de Comissões da Assembleia Legislativa do Ceará (ALCE), é a primeira de 13, realizadas pelo Comitê com o objetivo de ouvir adolescentes, familiares, a comunidade e as instituições sobre as causas dos homicídios na adolescência e as estratégias a curto, médio e longo prazo para combater esse fenômeno.
Estiveram presentes na audiência o presidente do Comitê, Ivo Gomes (PDT); o relator, Renato Roseno (PSOL); a deputada Bethrose (PMB); a deputada Augusta Brito (PCdoB); o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da ALCE, Zé Ailton Brasil; o representante do Unicef, Rui Aguiar; além do Conselho Estadual da Direitos da Criança e do Adolescência (Cedca) Ceará, do Ministério Público Estadual e da Procuradoria Geral da Justiça (PGJ).
“O que leva um adolescente a matar? E a morrer?”, foram as perguntas que nortearam as discussões na tarde de ontem. Divididos em quatro grupos, os participantes da audiência trocaram experiências e conhecimentos, elencando assuntos como a guerra às drogas, a violência policial constante - sobretudo aos adolescentes negros da periferia e a falta de políticas públicas para a juventude. “A única política pública que a gente conhece, na comunidade, é, muitas vezes, a polícia”, afirmou Régis Pereira, um dos participantes da audiência. O abandono familiar e por parte do Estado e a necessidade de mediação de conflitos, também foram abordados.
A próxima audiência pública do Comitê será realizada no Bom Jardim, no dia 29 de março.