Nosso mandato repudia a censura imposta à artista Simone Barreto no contexto da XIX Unifor Plástica. Ao expor o trabalho “Todas as coisas dignas de serem lembradas”, Simone teve censurados desenhos que abordavam o corpo da mulher e sua relação com o desejo e a sexualidade.
Interditar a arte é interditar o pensamento e a reflexão crítica, é seqüestrar emoções e sentimentos que reinventam de modo profundo nossa condição humana. Interditar a arte é, sobretudo, interditar a própria liberdade. O conservadorismo e o fundamentalismo não toleram a arte livre porque não suportam a possibilidade de questionamento a seus dogmas e suas convicções.
Nesse momento em que as forças ultraconservadoras fomentam um pânico moral na sociedade como forma de controlar a força criativa de livros, filmes, quadros, peças de teatro, performances, etc, temos de nos levantar contra esse moralismo hipócrita e diversionista que quer intimidar o debate público.
O Brasil vive hoje um ataque à sua democracia, que se dá não apenas no campo político, com a quadrilha que assaltou o poder e segue destruindo os direitos sociais; mas também no campo cultural, com esse macarthismo tupiniquim que vem promovendo uma verdadeira inquisição de artistas e exposições. Lembremos que as ditaduras costumam começar no ambiente das artes e da cultura, onde se cria o caldo de intolerância e de ódio que vai dar na institucionalização de um regime totalitário.
Por isso, lamentamos que, no caso da censura à Simone, universidade e museu tenham se autocensurado e deixado de ser um lugar de pensamento crítico e de liberdade de reflexão.