O Brasil nunca conseguiu universalizar efetivamente o seu sistema público de saúde, ao mesmo tempo em que segue permanentemente assediado pela crescente privatização e mercantilização de seu modelo. É o que defende a professora Lígia Bahia, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que participou na última quinta-feira (23) do debate “A relação do Público e do Privado no sistema de saúde do Brasil”, organizado pelo mandato É Tempo de Resistência e realizado na Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (ALCE).
“As pessoas dizem ‘só estou na Unimed porque o SUS não funciona’, mas o SUS não funciona porque você está na Unimed! Muitos hospitais privados funcionam inclusive em terrenos cedidos – ou seja, tem muito investimento público no sistema privado também”, defende Lígia, que também é médica e possui mestrado e doutorado em Saúde Pública. A professora apresentou um panorama dos modelos de saúde no mundo e um histórico do modelo brasileiro, frisando que o Sistema Único de Saúde (SUS) nunca foi integralmente efetivado – aqui, na verdade, segundo Lígia, estamos transitando entre o desejo de universalização da saúde pública, típico do modelo inglês, e a prática de sua constante e crescente privatização e mercantilização, comum no modelo estadunidense.
Lígia apontou também que o investimento do governo brasileiro na saúde é incompatível com a proposta do SUS. Os investimentos nessa área são maiores em países como a Argentina, o Uruguai, o Chile e até na Síria. “O gasto do Brasil é absolutamente incompatível com o SUS – é um gasto muito pequeno. A gente tem uma carinha de SUS, mas boca, orelha, nariz do modelo americano de saúde”, afirmou.
Em pauta no debate estiveram também a transformação de empresas privadas em filantrópicas, mas que, via de regra, servem a determinados interesses, e as condições do tratamento no SUS. “O atendimento do SUS é de baixa qualidade? Não! Mas é mais despersonalizado, tem uma fila enorme, demora horrores, as pessoas são desrespeitadas. No sistema privado você pode até ser pessimamente atendido, mas você tem certeza que será. No SUS você não tem certeza de se vai ser atendido, mas se você for, eu diria que há maior probabilidade de você ser bem atendido”, enfatizou Lígia.
Estiveram presentes no debate estudantes da Unifor, da Universidade Federal do Ceará (UFC), da Universidade Estadual do Ceará (UECE), representantes da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA), da Prefeitura Municipal de Fortaleza (PMF), militantes da Unidade Classista e de outras organizações.
Assista o debate na íntegra: https://www.facebook.com/RenatoRoseno50/videos/1608482579163755/
Veja os slides usados por Lígia Bahia no debate: http://www.renatoroseno.com.br/materiais-graficos