Todas as cidades do Cariri estão em nível de alerta “altíssimo” em relação à pandemia da Covid-19. O dado trazido pelo Boletim Epidemiológico da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), divulgado na semana passada, foi um dos temas abordados durante live conduzida pelo deputado estadual Renato Roseno (PSOL) na noite da última segunda-feira, 15. Para debater sobre o tema “Pandemia e o Cariri cearense”, o parlamentar recebeu a militante do Grupo de Valorização Negra do Cariri (Grunec), Valéria Carvalho; e a militante do PSOL e da Frente de Mulheres do Cariri Zuleide Queiroz.
Nas cidades de Juazeiro do Norte, Barbalha e Crato, a atuação e mobilização das comunidades foram imprescindíveis para a sobrevivência de milhares de pessoas. Durante o período de calamidade, o Grunec arrecadou 42 toneladas de alimentos que foram distribuídos nos bairros mais pobres da região. “O povo daqui tá na linha de frente. Agora, sem o auxílio emergencial, a fome volta com força. O povo está como zumbi nas ruas, pedindo comida e esmola. Isso é muito triste, principalmente porque sabemos das necessidades que existem”, relatou Valéria. “A iniciativa de distribuir os alimentos foi uma atuação integrada com outros movimentos e precisamos trabalhar dessa forma, unidas. Nós precisamos de cuidado”, completou.
Valéria defende que o lema do ano agora é “Com vida, sim” e destacou a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) na manutenção gratuita da saúde de tantas pessoas. “O SUS é quem tem nos ajudado a permanecermos vivos. Vamos continuar lutando para que ele melhore, apesar de todos os seus defeitos ainda existentes. E para isso precisamos de alguém na liderança que reconheça a importância de um serviço como esse, não um genocida. Fora Bolsonaro!”, afirmou.
O Crato, que conta com uma população de 133.031 pessoas, contabiliza 121 vidas perdidas desde o início da pandemia. Em números atualizados, disponibilizados pela Secretaria de Saúde do Município, a cidade notificou 31.890 casos, confirmou 9.507 e investiga 457 casos suspeitos. Já em Juazeiro do Norte, também de acordo com a administração municipal, foram registrados 352 óbitos num universo total de 58.611 casos notificados e 17.608 confirmados.
Diante desse contexto, a professora da Universidade Regional do Cariri, Zuleide Queiroz, afirma que há outras vulnerabilidades que permeiam o cenário da pandemia, como também as fragilidades em relação à habitação e à insegurança alimentar. Um fator que chama atenção, segundo ela, diz respeito aos casos de violência contra as mulheres. “Ainda em março de 2020, quando iniciou-se o debate em relação ao vírus e foi instaurada a quarentena, nós, da Frente de Mulheres, também priorizamos as medidas sanitárias. Uma delas, no entanto, muito nos preocupou: o isolamento social. Não porque duvidamos das precauções apresentadas, mas por pensarmos: ‘E agora? O que acontecerá com nossas mulheres?’”, relatou.
Juazeiro do Norte é a cidade que mais recebe denúncias de violência contra mulheres; em segundo lugar, o Crato. De acordo com dados da Delegacia da Mulher em Juazeiro do Norte, maio e junho de 2019 tiveram 169 e 142 registros, respectivamente; e 108 requerimentos de medidas protetivas considerando o total dos dois meses. Já em 2020, os meses de maio e junho registraram juntos apenas 96 BOs e 40 requerimentos de medida protetiva. Nenhum mandado de prisão foi feito pela Delegacia.
“O Cariri registrou um aumento de 187% a mais de casos de violência doméstica em 2020. Essa mulher, antes, tinha a justificativa de sair de casa; dizia que ia na bodega, ou deixar a criança na escola, e passava na Delegacia ou na Casa de Acolhimento e fazia um B.O. Elas ficaram sem essa brecha. Elas foram aprisionadas em casa, não somente pela Covid-19, mas principalmente porque seu agressor estava em casa 24h”, alerta Zuleide.
“A Covid-19 é uma doença e a pandemia é uma doença social, ou seja, suas repercussões são infinitas. Ela tem tido efeitos que ampliam os contextos de desigualdade em cada município do Ceará. Seja pelo âmbito da educação, da economia, da vida das famílias, da educação e da segurança alimentar. Todos nessa equação estão muito vulneráveis e precisamos apoiá-los. Precisamos discutir sobre todas as vulnerabilidades que a pandemia tem trazido, sobre os cenários políticos e sociais do País. Agora, sobretudo, precisamos lutar pela garantia de políticas públicas que defendam a vida”, destaca o deputado Renato Roseno. (Texto e foto: Evelyn Barreto)
Confira a live na íntegra.