As lutas anticapitalistas perderam dois grandes ativistas nesse início de 2018. No último dia 26 de janeiro, perdemos o companheiro Rui Kureda, também conhecido por Rui Polly. No dia seguinte, foi a vez da partida da companheira Célia Zanetti, ativista do grupo Crítica Radical de Fortaleza.
Nascido em 23/03/1958, Rui foi um dos 101 fundadores do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), tendo integrado sua primeira Direção Nacional. Iniciou sua militância ainda sob a ditadura militar, no final dos anos 1970, no movimento estudantil. Após breve experiência no PCdoB, rompe com o stalinismo e participa da construção do Partido Revolucionário Comunista (PCR), tendo sido um de seus dirigentes e responsável pelo acompanhamento do trabalho da organização no estado do Acre, onde militou ao lado de Chico Mendes, também militante do PRC.
Internacionalista, após a dissolução dessa organização, Rui manteve militância no Japão e na Inglaterra, onde ligou-se à Tendência Socialismo Internacional, cuja principal organização é o inglês Socialist Workers Party (SWP). Essa importante corrente internacional é um dos ramos do grande troco que é a Quarta Internacional, fundada por Leon Trotsky. No início dos anos 1990, Rui impulsionou um pequeno núcleo denominado Rebento, que participou do processo de reorganização da esquerda que terminou por constituir o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), mas optou por não se integrar a esse partido.
Depois de um novo período fora do país, Rui retornou logo após o início do primeiro mandato presidencial de Lula, se integrando aos esforços que culminaram na fundação do PSOL. Nos primeiros anos do partido, Rui esteve à frente do coletivo Revolutas, de cuja revista era o editor, protagonizando importantes debates que lhe deram projeção nacional na esquerda revolucionária brasileira. Infelizmente, já há alguns anos, teve sua militância cotidiana comprometida por sérios problemas pessoais e, por último, de saúde, vindo a falecer.
Em quatro décadas de atuação, Rui Kureda foi bancário, operário, assessor sindical, articulista do jornal Brasil de Fato, marxista e ecossocialista. Nossos profundos sentimentos à sua companheira Dani e filhos, Vladimir Eiji e Kione.
Célia iniciou a militância contra a ditadura militar no final dos anos 1960, tendo integrado os quadros da Ação Popular (AP) e do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Oriunda de São Paulo, radicou-se com seu companheiro Jorge Paiva em Fortaleza em meados dos anos 1970, tendo tido um papel determinante na organização das lutas feministas e na rearticulação dos movimentos populares e sindicais no Ceará. Assim como Rui Kureda, após romper com o PCdoB, também se somou à construção do PRC, saindo desta organização para fundar o Partido da Revolução Operária (PRO) às vésperas da posse de Maria Luiza Fontenelle como prefeita de Fortaleza, tendo sido uma das principais articuladoras da vitoriosa campanha eleitoral.
Apesar de ser uma organização de expressão apenas regional, o PRO teve importante papel nas lutas de classes da cidade até meados da década de 1990, quando iniciou uma revisão teórica e política que levou Célia e seu grupo para posições anticapitalistas próprias, afastadas do que chamam de marxismo do movimento operário. Conhecida por sua bravura, Célia foi um exemplo de dedicação e compromisso, deixando um legado reconhecido por todos os que seguem na luta contra o capitalismo, independente de orientação ou organização política.
Expressamos nossos sentimentos e solidariedade à dor de seu companheiro Jorge Paiva, com o qual dividiu ideias e causas por cinquenta anos, de sua filha Juliana e de todos os que integram o grupo Crítica Radical.
Não esqueceremos Rui e Célia! Presentes ontem, hoje e sempre!