“Para quem estamos falando? Como a gente pode falar uma coisa para uma pessoa que tem outro tipo de vivência, de bagagem cultural?”. O questionamento do videoativista Yargo Gurjão, do coletivo Nigéria, ecoa entre os presentes e levanta a discussão no Teatro das Marias, na Praia de Iracema. Na noite da última segunda-feira, 3, o local foi palco da segunda edição do ciclo de debates "Cultura, Arte e Política", promovido pelo Mandato É Tempo de Resistência, do deputado estadual Renato Roseno (PSOL), em parceria com a direção do teatro.
A pergunta de Yargo abriu a roda de conversa para refletir sobre novos circuitos de comunicação e de disputa simbólica através das mídias autônomas e independentes. Na pauta, novas tecnologias, os desafios de uma linguagem acessível e democrática, a democratização da comunicação, a (re)ascensão de discursos fascistas fora e dentro das redes e o ativismo em épocas de multiconexão. O financiamento dos veículos de comunicação e a necessidade de independência financeira das mídias também foi ponto de discussão. “Nós não podemos mais fugir da temática da autonomia financeira. Quem financia? Nós não temos costume de financiar a cultura. Autonomia financeira é condição para a autonomia política”, defendeu Andréa Saraiva, historiadora e consultora de Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs).
O objetivo do ciclo de debates é tentar avançar no debate sobre as políticas públicas para a Cultura, provocando a transversalidade entre temas, campos de saber e áreas de ação. A primeira edição aconteceu em maio e discutiu a relação entre cultura, arte e juventudes rurais. Debatedor dessa segunda edição do encontro, o ilustrador e designer Paulo Amoreira destacou que, apesar de todos os avanços tecnológicos, ainda temos modelos arcaicos de produção de conhecimento e informação. “A gente precisa voltar a aprender. A gente tem que parar para ver que algumas coisas que a gente acredita são legais, mas outras mudaram, e precisamos rever os conceitos. A gente tá produzindo conteúdo para nós mesmos. Falando para nós mesmos”, afirmou.
Para os participantes do debate, uma das avaliações foi a de que é preciso aprender a falar para fora dos círculos pessoais, apropriando-se das tecnologias para além das redes sociais e aprofundando-se nas suas potencialidades. Além disso, esse novo cenário da comunicação coloca o desafio de entender a cultura não mais em uma concepção elitista e restrita às políticas públicas, mas como um espaço de disputa de sociedade e de vida, de resistência. Como disse Renato Roseno, “a resistência é criativa". “Toda vez que inventamos a contramola, criamos outras potências”, afirmou.