"Todas somos Marielle", diz o cartaz convocando para um grande ato na noite da quinta-feira que se seguiu ao assassinato de Marielle. O ato aconteceu na Praça da Liberdade, em Montevideo, no Uruguai. A convocação foi feita pelos coletivos afroculturais uruguaios, que decidiram ir às ruas para manifestar sua indignação diante da notícia do bárbaro assassinato da vereadora e do seu motorista. Na Argentina, o Coletivo Passarinho organizou uma vigília no Obelisco, na região central de Buenos Aires. "Hoje marchamos ao lado de todas as mulheres negras e guerreiras do Brasil que resistem e lutam", conclamaram os organizadores.
Assim como nossos irmãos e irmãs latinos, dezenas de organismos, militantes, parlamentares e movimentos sociais em todo o mundo também manifestaram sua solidariedade aos ativistas brasileiros e fizeram repercutir internacionalmente o atentado do 14 de março. Também a imprensa internacional repercutiu de forma expressiva o atentado.
O Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (United Nations Human Rights) divulgou nota sobre o assassinato da vereadora e de seu motorista. A entidade classificou o episódio como "chocante" e ressaltou a importância da atuação de Marielle na defesa dos direitos humanos, em particular na luta contra a violência policial e em prol das garantias das mulheres e das pessoas afrodescendentes, em particular nas áreas pobres e periféricas do Rio de Janeiro.
"Entendemos que as autoridades se comprometeram a realizar uma completa investigação dos assassinatos ocorridos no Rio de Janeiro na quarta-feira à noite. Apelamos para que essa investigação seja feita o quanto antes, e que ela seja minuciosa, transparente e independente para que possa ser vista com credibilidade. Os maiores esforços devem ser feitos para identificar os responsáveis e levá-los perante os tribunais", diz a ONU.
Em nota, a Anistia Internacional cobrou a investigação do assassinato. “O Estado, através dos diversos órgãos competentes, deve garantir uma investigação imediata e rigorosa do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro e defensora dos direitos humanos Marielle Franco”, diz o texto. “Não podem restar dúvidas a respeito do contexto, motivação e autoria do assassinato de Marielle Franco”.
No Parlamento Europeu, cerca de 50 deputados e deputadas de várias nacionalidades ergueram cartazes com os dizeres: "Marielle, presente! Hoje e sempre!". Segundo o grupo, a vereadora era conhecida por seu trabalho nas favelas brasileiras e havia denunciado recentemente a violência e os abusos policiais na comunidade do Irajá. "Marielle foi assassinada. Até quando o mundo vai continuar a fingir que o Brasil é uma democracia. #olutoseráluta", publicou a deputada portuguesa Marisa Martins em seu perfil do Twitter.
Organização que apoia a defesa dos direitos humanos ao redor do mundo, a Human Rights Watch também se manifestou sobre a morte de Marielle. Em nota, a entidade disse lamentar profundamente o assassinato da vereadora e de seu motorista. O comunicado também ressalta a atuação pública da vereadora, "que vinha denunciando abusos da polícia nas comunidades locais". A HRW ainda pede uma "investigação rápida, rigorosa e imparcial" do caso e a "responsabilização de todos os envolvidos".
No texto, a organização pede que a investigação seja dividida entre a Polícia Civil do Rio de Janeiro e a Polícia Federal e também que o interventor militar garanta "que os investigadores contem com todos os recursos necessários, independência e a liberdade para identificar os assassinos". Em outro trecho, há o pedido para que o Procurador-Geral de Justiça do Ministério Público do Rio "convoque imediatamente o Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública do Ministério Público (GAESP) para participar da investigação".
REPERCUSSÃO - A solidariedade internacional foi tão forte que levou o assunto a ser o mais comentado do twitter mundial, chegando a um dos recordes históricos de citações. Marielle comoveu o mundo. Foi muito importante a solidariedade em todos níveis. A intervenção no parlamento europeu, com Miguel Urban, de Podemos e dos anticapitalistas do Estado Espanha interrompeu com emoção a sessão da última quinta-feira.
Houve atos nas capitais europeias como Paris, Londres, Lisboa, Berlim, Genebra. Na América Latina, na quinta e sexta, ocorreram atos em frente as embaixadas como em Buenos Aires, organizada pelo MST, FIT e organizações de direitos humanos; em Santiago, organizada por brasileiros, pela coordenadora do 8M, com apoio de organizações da Frente Ampla. No Peru, o Movimento Novo Peru se solidarizou e encampou uma manifestação em frente a embaixada, nos arredores de Lima. Montevidéu foi organizado por setores da esquerda sindical e popular.
Nos Estados Unidos, os protestos aconteceram em Nova York, Washington, com importantes declarações como a DSA(Democratic Socialist Party) e da Revista Jacobin. No Canadá, dezenas de brasileiros e canadenses se reuniram em Montreal para denunciar o assassinato de Marielle e Anderson.
No âmbito institucional, foi aprovado uma moção de justiça por Marielle no parlamento português- por iniciativa do Bloco de Esquerda; a câmara de Buenos Aires aprovou uma resolução oficial; uma carta da direção de Podemos para o Europarlamento sugerindo a ruptura de relações diplomáticas e comerciais com o Mercosul até que o caso seja devidamente apurado e resolvido. Também a declaração oficial do presidente boliviano, Evo Morales, com a devida rapidez,foi expressiva.
Chegaram ainda declarações de solidariedade das seguintes organizações: Coordenadora Socialista Revolucionária do México, Marea Socialista de Venezuela, Frente Ampla chilena, Sumate/MNP do Movimento Novo Peru, da Coordenadora Socialista Revolucionaria do México, Esquerra Unida i Alternativa de Catalunha,, Unidade Popular da Grécia, DSA Estados Unidos, da IV Internacional.
A solidariedade internacional com a tragédia coloca novos problemas no horizonte da luta democrática no Brasil. Além de recebermos de forma emocionada, o gesto de centenas de camaradas de luta do mundo todo, sabemos que isso representa um símbolo para a luta das mulheres e da negritude em todo planeta. Toda forma de pressionar as autoridades e o governo brasileiro para que os crimes sejam apurados é decisiva. (com informações da Ascom do PSOL)