Apesar da queda nos homicídios no Ceará, 14 municípios apresentaram grande aumento nos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) em 2019. Os feminicídios contrariaram a tendência de queda das demais categorias criminais e cresceram no estado como um todo. As conclusões são destaques do estudo “Mortes violentas no Ceará: pontos de atenção”, realizado pelo Observatório da Segurança do Ceará, integrante da Rede de Observatórios de Segurança, um projeto realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) em parceria com o Laboratório de Estudos da Violência (LEV).
O Observatório analisou dados das bases da Secretaria de Segurança Pública do Ceará (SSPDS), obtidos através de Lei de Acesso à Informação. No ano de 2019, 2.257 pessoas foram vítimas de homicídios dolosos, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte, as categorias incluídas no indicador CVLI. O total é 49,5% inferior ao do ano de 2018.
Segundo a análise do Observatório, os homicídios dolosos somaram 2.155 ocorrências, compondo a grande maioria dos casos de violência letal. Seguem-se as mortes decorrentes de ação policial (136 casos); latrocínios (37); feminicídios (34) e lesões corporais seguidas de morte (31).
Entre as categorias criminais analisadas, só a do feminicídio cresceu em 2019, registrando aumento de 13% em relação a 2018, quando houve 30 ocorrências. Ao todo, 232 mulheres foram mortas violentamente no Ceará ano passado; 82,3% destas mortes foram homicídios dolosos; 14,7%, feminicídios e 2,2%, latrocínios. Ao contrário do que acontece com os homicídios e outros crimes letais, a maioria dos feminicídios (60%) é cometida com armas brancas.
“As iniciativas no campo da segurança pública no Ceará têm sido incapazes de solucionar o aumento progressivo de feminicídios. O cenário para mulheres cearenses não foi alterado: continuamos sendo vitimadas, frequentemente dentro de casa, por um homem do convívio e por meio de armas brancas”, diz a pesquisadora do Observatório da Segurança do Ceará, Ana Letícia Lins.
Entre as vítimas de violência letal, mais de 90% são homens. A maioria (76%) dos registros policiais não informa a cor da vítima; nos casos em que a informação está disponível, os pardos são os mais numerosos (19%). Jovens de 20 a 29 anos são quase 40% de todas as vítimas masculinas.
Do ponto de vista da distribuição geográfica, Fortaleza e a Região Metropolitana concentram o maior número de casos, mas assistiram a reduções expressivas em seus indicadores: quando comparamos as mortes violentas entre 2019 e 2018, houve queda de 54,8% na capital cearense. No entanto, apesar da forte tendência de redução das mortes violentas no estado, alguns municípios caminharam em direção oposta, impulsionados por registros que subiram de forma vertiginosa: Alto Santo, que teve 2 mortes em 2018, saltou para 11 em 2019; Aracoiaba, que somava 5 mortes violentas em 2018, listou 15 em 2019.
Ao todo, 14 municípios tiveram crescimento de mais de 50% nas mortes violentas. Completam a lista as cidades de Porteiras, Milhã, Uruburetama, Antonina do Norte, Carnaubal, Senador Sá, Tarrafas, Amontada, Nova Jaguaribara, Assaré, Potengi e Santana do Cariri.
“Estes dados são um alerta para o poder público e a sociedade. É preciso estudar e analisar as causas do aumento de mortes nestas localidades, na maioria distantes da capital, para construir políticas que revertam o aumento dos crimes letais”, adverte Ricardo Moura, pesquisador do Observatório da Segurança do Ceará. (Texto: Rede de Observatórios de Segurança / Foto: Divulgação)