Todos os dias as notícias revelam como é ser mulher hoje no Brasil. É pegar um ônibus para o trabalho e um desconhecido ejacular em você. É ter medo de ser estuprada voltando para casa à noite após um dia de trabalho ou de estudo. É ser chamada de vadia pela roupa que escolheu vestir para estar confortável em um dia de calor. É ser estuprada aos 11 anos pelo padrasto, engravidar e ser obrigada a ser mãe sendo apenas uma criança.
É ser obrigada pelo esposo a transar sem camisinha. É engravidar e ser obrigada pelo namorado a abortar, ou decidir abortar e ser obrigada pelo Estado a ser mãe, mesmo não tendo desejo ou condições para isso. É, tendo decidido abortar, ter medo de contar para alguém e não ter assistência médica para realizar o procedimento com segurança. É morrer após uma infecção por ter feito um aborto clandestino. É ter medo de ser morta por aquele que deveria ser seu companheiro. É ser refém do medo. É não poder tomar suas próprias decisões quando o medo é um fator sempre levado em consideração por nós.
O dia 28 de setembro é o dia latino-americano e caribenho pela descriminalização do aborto. Lutamos para que a nossa jovem e ameaçada democracia seja de fato laica e legalize o aborto. A criminalização assume um lado a partir de um debate moral/religioso deixando meio milhão de mulheres por ano em situação de risco, sem assistência à saúde, ao decidirem interromper a gravidez.
A legalização do aborto não obriga ninguém a abortar, a criminalização mata.
Queremos ser livres! Queremos decidir sobre nossas próprias vidas!Queremos viver sem violência, sem assédio, sem medo, sem tutela. Para isso, precisamos de respeito, autonomia e direitos.
Isabel Carneiro, militante do Fórum Cearense de Mulheres e Frente Cearense pela Legalização do Aborto