Nos últimos dias e, em particular, nas últimas horas desta sexta-feira, vimos a tensão política crescer em Brasília. A par de seu contumaz destempero verbal, Bolsonaro adotou tom explícito de ameaça à realização das eleições e à democracia.
Bolsonaro está vendo sua base de apoio desmanchar. Ao mesmo tempo em que vê as manifestações de rua do campo democrático e a luta a favor do impeachment ganharem fôlego.
Ele se vê cada vez mais enredado nas denúncias de corrupção na compra das vacinas, de envolvimento direto no chamado esquema das rachadinhas e nas ilegalidades do “bolsolão”, o orçamento paralelo com o qual comprou apoio político no Congresso com emendas superfaturadas.
Enquanto isso, milhões de brasileiros padecem com o avanço da fome, da miséria e do desemprego. Ao mesmo tempo em que a Covid vai fazendo mais de 520 mil vítimas por conta da negligência criminosa do governo, que sabotou a campanha de imunização, priorizando as propinas no lugar das vacinas.
Diante desse cenário, o que faz o presidente? Adota a velha estratégia de teorias conspiratórias sem qualquer fundamento. Apela para a narrativa da “fraude” nas urnas eletrônicas e diz que não haverá eleições no ano que vem caso a justiça eleitoral não retome o sistema com votos impressos. Essa ameaça direta ao processo eleitoral é injustificável em quaisquer situações.
Em nota recente, o comando das Forças Armadas, com mais de 6 mil membros ocupando cargos civis no governo (nem na ditadura de 64, tantos militares foram empregados no governo), não disse uma palavra sobre as tantas e tão graves denúncias de corrupção, preferindo atacar o Senado.
O tom ameaçador contra a democracia foi ampliado por altos oficiais, tal qual o comandante da Aeronáutica, que em entrevista ao jornal O Globo, reafirmou a tentativa de intimidação ao Poder Legislativo. O alto comando das Forças Armadas, ao invés de apurar e punir a conduta ilegal dos seus, preferiu afundar abraçado a Bolsonaro.
Devemos, portanto, ampliar nossa convicção democrática e reforçar a mobilização pela apuração dos ilícitos cometidos e pela responsabilização dos culpados, sem esquecer de seguir cobrando investimentos para a ampliação da vacinação e da renda emergencial.
Mais do que nunca, é hora de defender a democracia contra Bolsonaro, de reafirmar o compromisso com o estado democrático de direito contra as aventuras golpistas e totalitárias.