“O grande legado do Tramas, nesses 20 anos, foi a coletividade. Ousar, coletivamente, fazer esse diálogo que não é fácil. Esse diálogo pra transformar a realidade das comunidades e nos transformar. Eu queria, nessa noite, falar dessa coragem, dessa ousadia, desse comprometimento de tantas pessoas que conosco acreditam que é possível mudar essa realidade tão opressora”. A fala emocionada de Lurdes Vicente, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras sem Terra (MST), resumiu bem a noite da última segunda-feira, 13, em que o plenário 13 de maio se encheu de flores e gratidão para homenagear os 20 anos do Núcleo Tramas UFC - Trabalho, Meio Ambiente e Saúde.
A sessão solene, requerida pelo mandato É Tempo de Resistência, foi um momento de encontro de ex-integrantes e atuais componentes do Núcleo Tramas, bem como de sujeitos que, na trajetória de construção coletiva de conhecimento a qual se propõe o Núcleo, formaram essa história. Estiveram presentes, na mesa da sessão solene, além do deputado Renato Roseno, a coordenadora e idealizadora do Tramas, professora Raquel Rigotto; a pró-reitora de extensão da Universidade Federal do Ceará, Márcia Machado; a moradora da comunidade do Tomé, um dos territórios nos quais o Núcleo desenvolve suas atividades, Socorro Oliveira; a militante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração, Talia Alves; e o professor e ex-deputado federal João Alfredo.
Para João Alfredo, “a pesquisa no Ceará nunca foi a mesma depois do Núcleo TRAMAS”. Isso porque, para além de aliar pesquisa e extensão de maneira ímpar, desenvolvendo projetos coletivamente com diversas comunidades no semiárido e na região costeira cearense, a base do Tramas, nesses 20 anos, tem sido a busca por uma ciência emancipatória e libertadora, comprometida com os direitos sociais. Como defendeu Renato Roseno, na sessão solene, “uma ciência que não sirva para a emancipação das pessoas não é uma ciência que projete uma nova sociedade. E é essa ciência que queremos! Que construa uma nova sociedade”.
As mensagens gravadas nas placas de homenagem, entregues a Raquel Rigotto e a todos os “trameiros” e "trameiras" presentes na ocasião, em perfeita consonância com a história do Núcleo Tramas, nos lembram: “A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá, mas não pode medir seus encantos. Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare. Os sabiás divinam”.