No rap, Jardison Remido encerrou a audiência pública sobre programas policiais realizada nessa quinta-feira, 15 de outubro, no Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte - Cuca Jangurussu. "E quando eu tô na rua, uns e outros me julga e divulga seu preconceito, tá interado? A poesia pausa, pesa, pisa, pousa, pulsa, em cada um de nós. Escute minha voz, pois, pela paz, eu tiro o pino da granada carregada de amor. E joguei – pra ver quem ouve o clamor da sabedoria ou para ver quem compreende a dor da periferia".
Requerida pelo mandato Ecos da Cidade, do vereador João Alfredo (PSOL), a audiência marcou o início da Semana pela Democratização da Comunicação em Fortaleza, que vai até esse sábado, 17 de outubro. A mesa foi composta pela diretora de direitos humanos da Rede Cuca, Luiza Cela, a jornalista Natasha Cruz, do coletivo Intervozes, a professora Inês Vitorino, do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Adolescência e Mídia (Grim), a representante da Frente Cearense Contra a Redução da Maioridade Penal, Júlia Dias, a integrante do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Marilene Luz, além do próprio Jardison Remido, representando o Fórum de Juventudes, o vereador João Alfredo e o deputado estadual Renato Roseno (PSOL).
Em pauta, a necessidade de democratizar as vozes na mídia, as violações de direitos humanos realizadas pelos programas policiais e o discurso de ódio por eles incentivado, o mercado da dor e da violência, a estigmatização da juventude negra e periférica, a redução da maioridade penal e a proteção aos direitos de crianças e adolescentes. "Programa policial não é jornalístico! É um entretenimento grotesco e sensacionalista que pega a dor e o sofrimento das pessoas e negocia com isso", avaliou Inês Vitorino.
A violação de direitos humanos e a incitação à violência são características comuns deste tipo de programação que chega a ocupar sete horas diárias no Ceará. O que se vê diariamente nos programas policiais de televisão é uma sequência de desrespeitos às pessoas, sejam aquelas que aparecem como acusadas, vítimas ou familiares, sejam aquelas que são levadas a participar de entrevistas e alguns quadros, sejam os próprios telespectadores.
Em 2014, a emissora TV Cidade veiculou, durante 20 minutos, o estupro de uma menina de nove anos. A emissora já havia sido autuada anteriormente pelo Ministério Público, mas não cumpriu o acordo e, por pressão dos movimentos de comunicação, precisaram pagar multa de R$ 23.029,34, maior montante já pago por uma TV por violações de direitos, mas, ainda assim, valor irrisório, se comparado aos lucros da emissora.