Sem abelhas, sem alimentos. A regra já foi mote de campanha ambientalista no Brasil em 2013. Hoje, traduz um dramático alerta sobre o risco para a biodiversidade trazido pelo uso de agrotóxicos. Em particular, dos chamados neonicotinoides, um tipo de inseticida produzido à base de nicotina que impacta de forma grave ao sistema nervoso das abelhas e outros insetos.
Entre outubro de 2018 e março de 2019, somente no estado do Rio Grande do Sul, pelo menos 500 milhões de abelhas melíferas morreram em decorrência de agrotóxicos. O número pode ser muito maior porque os casos nem sempre se tornam públicos e não há uma base de dados oficial. Na contramão da regulação, o governo Bolsonaro liberou mais de 350 agrotóxicos desde o começo do ano - muitos deles, à base de neonicotinoides.
"No Brasil, a questão dos agrotóxicos é preocupante. Vários relatos sobre a mortandade de abelhas devido à contaminação pelo uso inadequado de pesticidas vêm sendo feitos pela comunidade científica", afirma o deputado estadual Renato Roseno (PSOL). O parlamentar é autor de um projeto de lei que começou a tramitar na Assembleia Legislativa e que proíbe a utilização e comercialização de produtos agrotóxicos formulados com base em neonicotinoides.
O projeto usa como base científica estudos e pequisas desenvolvidas no Brasil e em outros países, todos eles revelando a perigosa relação entre o uso dos neonicotinoides e a mortandade de abelhas. Em abril de 2018, a Comissão Europeia baniu o uso dos neonicotinoides em áreas abertas em seus estados-membros. Mesmo caminho está sendo trilhado pelo Canadá, que anunciou a proibição desses produtos até o início da próxima década.
No Brasil, o setor apícola assenta sua produção principalmente no pequeno produtor. São cerca de 350 mil apicultores no país, gerando 16 mil empregos na indústria e movimentando um mercado avaliado em R$ 796 milhões. Segundo Renato, a apicultura e a meliponicultura promovem impactos positivos, tanto do ponto de vista social quanto econômico, além de contribuir para a manutenção e a preservação dos ecossistemas.
"A cadeia produtiva da apicultura gera postos de trabalho, empregos e fluxo de renda, sobretudo no ambiente da agricultura familiar, sendo essencial para a melhoria da qualidade de vida e a fixação de agricultores(as) no meio rural", defende.
Para o parlamentar, ao proibir esse tipo de agrotóxicos no estado do Ceará, o projeto promove a proteção das abelhas e da agrobiodiversidade. "A ideia é assegurar que nosso estado siga a sua trajetória atual de êxito na produção de mel - somos, atualmente, o quarto maior produtor do Nordeste e o nono do Brasil. Mas, principalmente, evitar mortandades em massa das abelhas já que há casos registrado em outros estados brasileiros", afirma Renato.
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