Reportagem publicada no portal UOL Notícias revela os resultados de um estudo produzido pela Human Rights Watch (HRW), ONG internacional que atua em defesa dos direitos humanos, e que mostra os gravíssimos efeitos da pulverização de agrotóxicos na saúde dos brasileiros, em particular das comunidades tradicionais. Segundo o estudo, moradores vêm sendo expostos a elementos químicos preocupantes nas proximidades de suas casas, escolas e locais de trabalho por todo o Brasil.
O estudo foi realizado entre julho de 2017 e abril deste ano e ouviu 73 pessoas afetadas por agrotóxicos em comunidades rurais, indígenas e quilombolas e em escolas rurais nas cinco regiões do Brasil. Afetados pelos produtos lançados descreveram intoxicação aguda e sintomas que incluem sudorese, frequência cardíaca elevada, vômitos, dor de cabeça e tontura. A exposição crônica também foi associada à infertilidade, a impactos no desenvolvimento fetal e ao câncer.
Segundo o levantamento, pessoas expostas a agrotóxicos frequentemente estão em comunidades pobres, enquanto os responsáveis são os vizinhos proprietários de grandes fazendas. Ainda de acordo com o estudo, as pessoas que se queixam sobre a exposição a agrotóxicos podem sofrer ameaças e temem retaliações. Um dos casos tratados é o do assassinato do agricultor rural e ativista José Maria Filho, em abril de 2010. Zé Maria foi baleado 25 vezes quando voltava para casa em Limoeiro do Norte, no Ceará. O motivo foram as denúncias contra a pulverização aérea e a contaminação da água na região. Embora quatro suspeitos tenham sido denunciados em 2010, ninguém foi julgado até hoje.
Um projeto de lei (PL 18/2015) de autoria do deputado estadual Renato Roseno (PSOL) prevê a proibição da pulverização aérea de agrotóxicos no território cearense. Apresentando ainda em 2015, a proposta segue tramitando na Assembleia e aguarda votação em plenário. Em sua justificativa, Renato argumenta que, desde 2008, o Brasil é campeão mundial no consumo de agrotóxicos, o que vem provocando inúmeras conseqüências socioambientais, e que a utilização da pulverização aérea causa graves efeitos sobre a população.
"De acordo com os dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, mesmo com diversas condições ideais, como calibração, temperatura e ventos, o método de pulverização implica em reter 32% dos agrotóxicos emitidos nas plantas, enquanto que 49% vão para o solo e 19% são dispersados para áreas fora da região de aplicação", alerta o deputado. Dos dez agrotóxicos mais utilizados no Brasil em 2016, nove são considerados altamente perigosos pela ONG Pesticide Action Network International. Quatro desses químicos não estão autorizados na Europa.
Segundo o Ministério da Saúde, 4.003 pessoas foram intoxicadas por agrotóxicos no Brasil em 2017 - ou quase 11 por dia -, das quais 148 morreram. Esses números, entrando, podem ser ainda mais trágicos, porque ninguém sabe ao certo qual a real extensão do problema. De acordo com o ministério, quase 70% dos municípios brasileiros não enviam nenhuma informação sobre o assunto ao governo federal. (Foto: Divulgação/HRW)
Confira a íntegra da reportagem: https://bit.ly/2Lpr0ZC Confira a íntegra do projeto de lei: https://bit.ly/2tvKp0D