"Reforma da Previdência: a falácia do déficit" - debate apresenta inconsistências nos dados apresentados pelo Governo Federal

20/03/17 10:59

É necessário exigir maior controle público sobre as informações do Governo quanto à Reforma da Previdência. Foi isso que defendeu na tarde da última sexta-feira, 17, a professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Gentil, durante o debate “Reforma da Previdência: a falácia do déficit e os impactos para a sociedade brasileira”, realizado pelo mandato É Tempo de Resistência (deputado Renato Roseno, PSOL – Ceará) em parceria com a Frente Cearense em Defesa da Seguridade Social.

A professora apontou que, para justificar a necessidade de uma reforma que elevará a idade mínima para a aposentadoria e realizará outras alterações que prejudicarão a classe trabalhadora, o Governo Federal apresenta dados incoerentes, inconsistentes e equivocados. Entre outras mistificações, o golpista Temer tem divulgado a previsão de uma explosão do déficit previdenciário para 2060, sem esclarecer como chegou a ele. Para Denise, o governo não consegue explicar justamente porque esse esse caminho mostraria que na verdade o déficit é uma falácia.

“O governo usa a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2009 para estimar o déficit. 2009 foi um ano de crise, no qual a gente teve redução do PIB, no qual o desemprego aumentou. Eles escolheram a PNAD de 2009 como uma fotografia do cenário do mercado e reproduziram como padrão até 2060. O que era pra ser uma exceção, eles tomaram como regra. Por que não escolheram o PNAD de 2010, onde o PIB cresceu? Por que justamente a PNAD de 2009, quando o país estava em crise?", questionou.

Denise mostrou ainda que o número de idosos de fato está crescendo no Brasil, mas que esse crescimento deve ter taxas cada vez menores a partir de 2019. Os dados apresentados pelo Governo Federal sobre o déficit, entre 2002 e 2012, tem erros de até 35% e sequer apresenta outros cenários possíveis para a Previdência, como deveria ser, ou a margem de erro dos dados. “Se o Governo não consegue prever curtos intervalos, se em um intervalo desses tem erro de até 35%, como ele quer prever 2060? É com base em um modelo desses, que não tem nenhum tipo de credibilidade, que eles querem fazer uma reforma que vai mudar a vida de todos os trabalhadores do Brasil, sobretudo os mais pobres?”, denunciou.

A Reforma da Previdência também não é igual ao que funciona nos países europeus, afirmou Denise. Na Europa, a idade de 65 anos, por exemplo, não é uma idade mínima, como nos fazem crer, mas sim uma idade de referência para a aposentadoria, de maneira que os trabalhadores podem se aposentar antes disso, lembrou.

Bancos, proprietários de títulos públicos e bancadas do congresso, que pactuam lobbies para negociar votos, além de burocratas do governo, que formulam os dados sem credibilidade enquanto atendem interesses privados, são os principais beneficiados com a Reforma da Previdência, segundo Denise. O próprio secretário de Previdência e principal articulador da reforma, Marcelo Caetano, que tem se reunido diariamente com os representantes de bancos, é conselheiro de uma empresa privada de previdência, o que configura um claro conflito de interesses.

Além de Denise, também estiveram no debate Vilson Antônio Romero, presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip); Jacinto Araújo da Silva e Luciano Simplício, da Frente Cearense em Defesa da Seguridade Social; e Renato Roseno, que mediou o debate. “Nós não precisamos de Reforma da Previdência, mas da Reforma da Presidência”, concluiu Vilson.

Confira aqui a transmissão ao vivo do debate: Parte 1 - https://www.facebook.com/RenatoRoseno50/videos/1600842613261085/ Parte 2 - https://www.facebook.com/RenatoRoseno50/videos/1600884949923518/

Veja os slides apresentados por Denise e Vilson em: http://www.renatoroseno.com.br/materiais-graficos

Áreas de atuação: Assistência social, Democracia, Economia