Pelo menos uma em cada três crianças com menos de 5 anos – cerca de 250 milhões – está desnutrida ou com sobrepeso. Além disso, quase duas em cada três crianças entre 6 meses e 2 anos de idade não recebem alimentos capazes de sustentar o crescimento rápido de seu corpo e de seu cérebro. É o que aponta o relatório "Situação Mundial da Infância 2019: Crianças, alimentação e nutrição", produzido pelo Unicef e divulgado nessa segunda-feira, dia 14.
Segundo o documento, um número assustadoramente alto de crianças com menos de 5 anos está sofrendo as consequências físicas da má alimentação e de um sistema alimentar que está falhando com elas. Isso coloca em risco o desenvolvimento cerebral dessas crianças, deixando-as sujeitas a dificuldades de aprendizagem, baixa imunidade, aumento de infecções e, em muitos casos, a morte. Essas tendências globais se confirmam no Brasil, que passou por uma rápida transição demográfica, epidemiológica e nutricional que afetou o padrão de consumo alimentar e a saúde da população.
"Nas últimas décadas, o Brasil reduziu significativamente a taxa de desnutrição crônica entre menores de 5 anos (de 19,6% em 1990 para 7% em 2006), atingindo, antes do prazo, a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Entretanto, a desnutrição crônica ainda é um problema em grupos mais vulneráveis, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos", destaca o relatório do Unicef. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2018, a prevalência de desnutrição crônica entre crianças indígenas menores de 5 anos era de 28,6%. Os números variam entre etnias, alcançando 79,3% das crianças ianomâmis.
Se entre os grupos mais vulneráveis, a desnutrição ainda é uma ameaça, aumenta progressivamente o consumo de alimentos ultraprocessados e a prevalência de sobrepeso e obesidade no Brasil. Segundo o Unicef, ua em cada três crianças de 5 a 9 anos possui excesso de peso, 17,1% dos adolescentes estão com sobrepeso e 8,4% são obesos. Apesar da Política Nacional de Alimentação Escolar, a escola ainda é considerada um ambiente obesogênico, com lanches de baixo teor de nutrientes e alto teor de açúcar, gordura e sódio.
"No Brasil, como na maioria dos países da América Latina e do Caribe, crianças e adolescentes estão comendo muito pouca comida saudável e muita comida pouco saudável", afirma Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil. "Por causa disso, hoje há uma tripla carga de doenças, em que desnutrição, anemia e falta de vitamina A coexistem com o sobrepeso e a obesidade, associados a doenças crônicas não transmissíveis", reforça.
PROJETOS DE LEI - No Ceará, dois projetos de autoria do deputado estadual Renato Roseno (PSOL) enfrentam a questão dos alimentos ultraprocessados e da falta de orientação nutricional nas escolas. Um deles é o projeto de lei 533/2019, que tem como objetivo garantir a assistência nutricional e a segurança alimentar aos alunos das escolas públicas e privadas por meio do ensino e da divulgação dos princípios da alimentação saudável.
Elaborada em parceria com o Conselho Regional de Nutricionistas da 6ª Região (CRN-6), a proposta pretende difundir na comunidade escolar temas de educação alimentar e nutricional, promovendo a melhoria da qualidade da alimentação. Também se propõe a facilitar e orientar os professores na inserção dos temas de alimentação e nutrição de forma transversal em suas respectivas disciplinas.
A outra iniciativa é o PL 499/19, também elaborado em parceria com o Conselho Regional de Nutrição, que quer promover alimentação saudável nas escolas cearenses e excluir alimentos ultraprocessados e açucarados do cardápio das merendas escolares.
"A composição nutricional desbalanceada favorece doenças do coração, diabetes e vários tipos de câncer, além de contribuir para aumentar o risco de deficiências nutricionais, pois geralmente são consumidos ao longo do dia, substituindo nas refeições principais alimentos essenciais como frutas, leite, água e preparações culinárias", defende o parlamentar. (Texto: Felipe Araújo, com informações do Unicef / Foto: Divulgação-Unicef)
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