A esquerda precisa construir, de modo coletivo, popular e democrático, um novo projeto político para o País. E essa construção tem de se dar de forma urgente. Para Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Teto (MTST), e Renato Roseno, que participaram de debate sobre as lutas de classe no Brasil, realizado na noite de ontem no auditório dos Ciências Sociais da UFC, esse projeto não pode nem repetir os erros do passado nem se conformar com o presente. O debate foi promovido pela Frente Povo Sem Medo.
Após fazer uma retrospectiva econômica e política sobre as mobilizações populares desde a década de 90, quando houve a última greve geral no Brasil (1991), Renato destacou a necessidade de as forças de esquerda saírem de suas bolhas ideológicas e dialogarem não só com seus iguais, mas também com interlocutores de vertentes diferentes. Essa necessidade de unidade dos setores da esquerda, entretanto, não pode de dar sem que sejam esquecidas as críticas à atual correlação de poder no Brasil.
“Uma janela se abre agora para enfrentarmos essa fragmentação das forças de esquerda, mas se a unidade é séria, não nos convide para essa agenda que tem como teto outubro de 2018. Nossos sonhos não acabam em 2018! Nós não podemos abrir mão da crítica política necessária. A fraternidade só vale se for crítica”, afirmou Renato.
Já Guilherme Boulos elencou os três principais desafios para o enfrentamento da política conservadora atual: além da unidade, a capacidade de mobilização e a criação de um novo projeto político para os rumos do país. Segundo ele, o ciclo político representado pela hegemonia do Partido dos Trabalhadores (PT) no poder chegou ao fim. Boulos afirmou que o PT investiu em um programa de “ganha-ganha” onde houve melhoras para o povo mais pobre, ao mesmo tempo em que os lucros do setor financeiro e do agronegócio tiveram seu ápice. Um projeto que, defendeu Boulos, “não mexeu nos privilégios da casa grande. Que propunha democratização da comunicação, da política, desmilitarização da polícia, reforma agrária, mas que deixou tudo isso na gaveta em nome da governabilidade”.
Apesar da dureza da conjuntura política, economia e social do Brasil atualmente, com um governo ilegítimo que corta direitos sociais e se compromete com interesses dos conglomerados econômicos nacionais e internacionais, Boulos e Renato lembraram que o momento não é de pessimismo, mas de luta. Convocando para a greve geral do dia 28 de abril, Renato concluiu afirmando que “o convite que fazemos pra vocês, não é escrito pelas mãos do Temer, do agronegócio. O futuro que queremos, nós não sabemos qual vai ser: mas vamos escrever juntos”.