Em intervenção no plenário da Assembleia Legislativa, Renato Roseno denunciou os conflitos pela água em São Gonçalo do Amarante. Na última terça-feira, moradores da região montaram acampamento em defesa do Aquífero Dunas e contra as obras de construção de poços profundos pelo governo do Estado, que quer usar os mananciais para beneficiar o Complexo Industrial do Pecém. As manifestações aconteceram inicialmente na comunidade da Parada e, na manhã de hoje, na comunidade do Paú, onde os manifestantes tiveram de deixar o local diante da ameaça de intervenção policial.
“A questão da água no Ceará virou uma questão de conflito de classe. Existe uma disputa entre, de um lado, a população e, de outro, as empresas, que querem a água para garantir segurança hídrica para seus empreendimentos”, afirmou o deputado. “Nós somos contra esse projeto porque é uma violação ao direito fundamental pela água. A comunidade está organizada e está enraivecida contra o governo. Nós fomos informados que a população foi retirada diante da ameaça de intervenção policial”.
Renato pediu ao líder do governo na Assembleia, deputado Evandro Leitão (PDT), que intervenha no caso no sentido de que não exista uma escalada maior de violência. “Desde o ano passado, nosso mandato vem denunciando a injustiça hídrica que vem sendo promovida pelo governo e vem tentando, a todo momento, fazer com que aquela água fique assegurada para as comunidades”, afirmou. “Nós já encaminhamos à justiça um parecer técnico que mostra que a escavação desses poços vai impactar todas as comunidades de São Gonçalo do Amarante”.
AÇÕES JUDICIAIS - As denúncias apresentadas por Renato, pela Defensoria Pública e pelos movimentos sociais que acompanham a questão da luta pela água em localidades como o Lagamar do Cauipe, em Caucaia; e o Aquífero Dunas, em São Gonçalo do Amarante, resultaram numa série de ações judiciais proibindo as obras de extração para beneficiar o Complexo do Pecém. As obras no Cauipe seguem suspensas, mas continuaram em São Gonçalo.
“O modelo de desenvolvimento no Ceará tem privilegiado, com investimentos públicos e de infraestrutura, renúncia fiscal e benefícios tarifários, a atração de grandes empresas. O Complexo Industrial e Portuário do Pecém se inscreve nessa agenda”, explica Renato. “Só que é uma agenda velha, que destrói o meio ambiente, é hidrointensiva (num estado em que 97% dele está no semiárido, ou seja, suscetível a estiagens), além de elevar, e muito, a exclusão espacial e socioeconômica de povos tradicionais”.