Entre 1928 e 1973, quase 2 mil pessoas foram "condenadas" ao isolamento e à sobrevivência baseada na própria sorte no hospital-colônia Antônio Diogo, em Redenção, a 55 quilômetros de Fortaleza. Eram anos de internamento compulsório, previsto em lei, para os acometidos pela hanseníase. Crianças, agricultores, donas de casa, trabalhadores urbanos, moradores de rua. Diversos tipos humanos oriundos de todo o Estado compunham a população da colônia, que constituía ao mesmo tempo sentença e moradia para os portadores da doença. Mais de 45 anos depois, o equipamento ainda abriga ex-pacientes, que trazem em fotografias e objetos pessoais e também no próprio corpo as lembranças de um período marcado pela desinformação e pelo preconceito.
"Embora o isolamento compulsório tenha sido abolido, algumas pessoas que foram pacientes continuam morando na colônia. Muitas delas por terem perdido seus laços familiares. É necessária uma ação política que seja capaz de ressignificar a essência da colônia, retirando o viés hospitalocêntrico e dando ênfase ao caráter de memória e de assistência social para aqueles que lá ainda vivem", afirmou Renato Roseno durante visita à unidade na última sexta-feira (23).
A Colônia foi fundada em 1928 e até 1940 foi mantida por doações de particulares. A partir de 1940, o Estado do Ceará passa a manter a instituição. Hoje, o equipamento conta com um memorial, que guarda notícias de jornal e documentos oficiais produzidos pela instituição, além de objetos utilizados pelos internos e pessoas que cuidavam dos mesmos. Entre os documentos catalogados, estão livros de matrícula, os registros de óbito, livros de ata, livros de caixa e certidões dos nascidos vivos que eram imediatamente afastados dos pais, levados para uma creche e depois entregues nos orfanatos.
A ideia dos movimentos que lutam pela preservação da Colônia é fazer do equipamento um lugar de memória que ofereça um rico acervo para as pesquisas sobre políticas de saúde e, especificamente, sobre o tratamento que era dado aos hansenianos ao longo do século XX. "A discriminação, seja por qualquer razão, de raça, gênero, nacionalidade, etc, sempre fez mal à sociedade", destacou Renato.