A Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Assembleia Legislativa do Estado realiza na próxima terça-feira, 31, audiência pública para debater os desdobramentos dos assassinatos de sete mulheres pelo chamado "Escritório do Crime", na região do Cariri. Os crimes estão completando 20 anos em 2021. O momento será transmitido nas redes oficiais da Assembleia.
Thelma, Ana Amélia, Vanesca, Eliane, Edilene, Alessandra e Aparecida foram as vítimas dos crimes que aconteceram entre maio de 2001 e março de 2002. O "escritório" foi uma organização criminosa que executava roubos a bancos, carros-fortes, cargas, pistolagem e extermínio por encomenda. O empresário Sérgio Brasil Rolim, comandante da organização, foi condenado a 118 anos de prisão por homicídios e estupros. Há crimes que permanecem sem desfecho e sem julgamento.
“Há 20 anos, a indignação, mas, sobretudo, o clamor de justiça, não atravessam somente o Cariri, no passado e hoje, mas também todo o Estado do Ceará e o Brasil. Todo assassinato de mulheres guarda em si um componente patriarcal e machista evidente que se inicia na execução, na morte física daquela mulher, mas que continua com o processo de naturalização dessa morte", destacou o deputado estadual e presidente da CDHC, Renato Roseno.
Roseno reitera que o caso das mulheres assassinadas é sintomático e demostra um cenário que continua sendo testemunhado ainda hoje. "Passados 20 anos, o Ceará é o sétimo estado do país com mais denúncias de violência contra a mulher", destaca.
Em 2020, 336 mulheres foram assassinadas, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS). No mesmo ano, 19 mulheres trans foram assassinadas no Estado, de acordo com levantamento feito por noticiários. Dados oficiais da SSPDS apontaram a ocorrência de 27 feminicídios, enquanto a Rede de Observatórios da Segurança monitorou a ocorrência de 47. A diferença dos dados põe em destaque que a subnotificação ainda é uma realidade.
O assassinato das vítimas pelo Escritório do Crime completa 20 anos, mas o Cariri ainda tem sido palco de casos de violência contra mulheres. No último dia 12 de agosto, no Crato, 33 mulheres foram vítimas de cárcere privado em uma clínica de repouso. O diretor da clínica, Fábio Luna dos Santos, é investigado por abuso sexual, maus-tratos, violência física e psicológica e apropriação dos benefícios sociais das mulheres.
"Entendemos que a audiência é importante pela denúncia dos cenários atuais, sobretudo por trazer perspectivas de encaminhamentos que possam levar à agilização dos julgamentos e da justiça, além de ser uma oportunidade de levar às pessoas uma reflexão mais profunda sobre como o capitalismo tem dinamizado esse mal. Precisamos refletir sobre a necessidade de um novo movimento emancipatório para romper essa lógica capitalista e construirmos uma nova sociedade", destaca a professora, integrante do Crítica Radical e da União das Mulheres Cearenses, Rosa Fonseca.
Foram convidados a participar da audiência pública autoridades e instituições que têm um papel fundamental nas pautas que permeiam as discussões sobre violência contra mulheres. Entre elas, Movimentos de Mulheres, Secretária de Proteção Social, Mulheres, Justiça e Direitos Humanos; Justiça Estadual das Comarcas de Barbalha e Juazeiro do Norte; Secretaria de Segurança Pública do Estado, Ordem dos Advogados do Brasil/Seção Ceará e o ex-deputado Federal Luiz Couto, relator da CPI dos Grupos de Extermínio na Câmara Federal, entre outros.
Serviço: Audiência Pública - CARIRI: 20 anos dos assassinatos de mulheres pelo Escritório do Crime Quando: 31 de agosto de 2021, às 09h Onde: TV Assembleia e redes sociais da Casa