Em carta divulgada na noite de quarta-feira (30), cerca de 90 organizações sociais manifestaram apoio ao Projeto de Lei no. 072/2021, de autoria do Governo do Estado e que dispõe sobre o Programa “Ceará Educa Mais”; e à Emenda 03, apresentada pelo deputado estadual Renato Roseno (PSOL). Em carta aberta à sociedade cearense e aos parlamentares estaduais, as entidades reafirmam a defesa de uma educação pública de qualidade, "que viabilize a formação de sujeitos críticos, humanizados, interferindo positivamente na realidade onde estão inseridos e proporcionando condições de superar as diversas realidades de desigualdade social, violências contra os mais diversos grupos sociais, machismo, racismo, agressões ao meio ambiente e a desvalorização da cultura popular".
Na última semana, parlamentares ligados à base bolsonarista e à bancada fundamentalista na Assembleia Legislativa tem contestado a emenda de Renato. A proposta inclui a educação do campo entre as diretrizes do programa, mas incomoda os deputados reacionários por conta da menção no texto ao termo "equidade de gênero". "Educação contextualizada para a convivência com o semiárido: orientar práticas educacionais e pedagógicas emancipatórias, ancoradas na realidade local, considerando as dimensões social, cultural, econômica, ambiental e política, para contribuir com o desenvolvimento sustentável do semiárido, a promoção da equidade e igualdade étnico- racial e de gênero e a formação de uma cultura de paz, sobretudo mediante o fomento à consolidação e criação de escolas do campo, indígenas e quilombolas, bem como a celebração de parcerias com Escolas Família Agrícola", diz o texto da emenda, que foi alvo de uma campanha infame de mentiras e manipulações nas redes sociais.
Segundo Renato, esses parlamentares se incomodam tanto com a expressão "equidade de gênero" porque defendem projeto de sociedade machista e lgbtfóbico. "Eles não toleram uma sociedade plural, diversa, com igualdade de direitos. Em vez disso, se utilizam do preconceito e do discurso de ódio para aglutinar e mobilizar suas bases de seguidores contra o 'inimigo' da vez, sempre uma fantasmagoria delirante contra a qual eles direcionam suas piores energias", afirma Renato. "Estranhamos quem usa da fé - que deveria apoiar a fraternidade e amor - pra disseminar ódios. Pior que isso: o pânico gerado por esses sepulcros caiados tem exclusiva intenção de angariar votos para seus projetos de poder individuais".
As organizações que assinam o manifesto - confira a íntegra do documento aqui - destacam que somente através de uma educação emancipadora é possível "transformar as pessoas e semear a cultura da paz, da tolerância, do respeito, do antirracismo e da valorização da pessoa humana". "O texto (da emenda) expressa as diversas dimensões que o processo educativo deve compreender no âmbito da formação humana e, de forma especial, atende a população do Semiárido". (Texto: Felipe Araújo / Foto: Agência Brasil)