No último domingo, 14, completaram-se três anos do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). Em alusão à data e trazendo luz ao debate sobre violência política contra mulheres, o deputado estadual Renato Roseno (PSOL) realizou uma live com a fundadora do movimento RUA – Juventude Anticapitalista e membra da coordenação estadual do Movimento Negro Unificado (MNU ) de São Paulo, a jornalista Simone Nascimento. Ela esteve à frente da mobilização de atos por justiça à Marielle e Anderson Gomes no #14M.
Entre os diferentes questionamentos que permeiam a morte da parlamentar, um permanece como destaque: quem mandou matar Marielle Franco? De acordo com Simone, o sentimento de indignação, aliado à falta de respostas, permanece sendo o combustível para a mobilização nacional e internacional em torno do atentado. "Quando finalmente chegamos lá, eles ainda assim matam a gente?", destacou a jornalista, referindo-se à eleição de Marielle para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro. "Esse luto se tornou um luto coletivo e a indignação, também. Os assassinos de Marielle não tinham dimensão do que ela significou e significa. Não sabiam da potência dela”,
Para Simone, a representatividade de Marielle como exemplo de lutadora social ganhou muita força ainda durante sua campanha para a vereança. Afinal, tratava-se de uma mulher negra, bissexual e de periferia concorrendo a um local ocupados, em sua maioria, por homens brancos, héteros e ricos. “Marielle significou muito para o fortalecimento da esquerda. Sua campanha foi impactante entre as mulheres, seja dentro do PSOL ou no País”, relembrou. “Os assassinos de Marielle não consideraram que aquele corpo, que eles consideraram matável, era uma pessoa que mobilizaria tanta indignação por conta de sua morte. Eles acreditam que corpos matáveis são corpos em relação aos quais não é feita justiça, pelos quais não há pessoas que irão lutar. Mas eles se engaram e muito”, reforçou.
Projeto de Lei
Marielle foi vítima de violência política e o Brasil e o mundo cobram respostas e justiça. "A violência que atravessou o corpo da Marielle foi provocada por um sentimento de ódio. Foi um crime político, motivado por ódio político às bandeiras e convicções que ela representava”, defendeu Renato Roseno. Para o deputado, a entrada de Marielle no parlamento mudou o perfil da política, tradicionalmente ocupada por coronéis e pela elite econômica. "Marielle foi eleita vereadora, com a quinta maior votação da capital do Rio de Janeiro. O crime não foi apenas contra ela, mas contra a democracia brasileira. Executaram uma mulher, uma liderança jovem, negra e bissexual, da favela, que dedicou sua vida inteira à justiça social. Os valores que estavam por trás da atuação de Marielle eram solidariedade, justiça e igualdade para o povo, valores nobres e elevados”.
Em homenagem à Marielle e sua trajetória de luta, Roseno apresentou Projeto de Lei 88/2021 que cria o "Dia Marielle Franco de Enfrentamento à Violência Política contra Mulheres” em 14 de março, no Ceará. O objetivo é denunciar e combater as diversas formas de violência praticadas contra mulheres no âmbito da luta política. O PL prevê a realização de seminários, divulgações e palestras sobre Marielle Franco e a importância do enfrentamento à violência política no estado. Confira aqui o PL na íntegra.
Mulheres são os principais alvos da violência no âmbito doméstico e nos espaços de poder, especialmente quando ocupam cargos públicos na cena política. São violências que atravessam raça, gênero e sexualidade. “Marielle apresentava-se dessa forma: mulher-raça. Ela trouxe essa discussão à tona e fazia questão de destacar as interseccionalidades das violências. Não há mulher sem raça, nesse momento”, destacou Simone. Para preservar a imagem e a memória de Marielle, ela defende, o seu grito por justiça deve permanecer ecoando. “É fundamental que a gente combata as tentativas de deformação da história da Marielle. Esse luto se tornou uma luta constante e não podemos permitir nenhum retrocesso. Não podemos permitir que passem anos e anos e isso não se torne algo não-natural”, reiterou.
No entanto, ainda não há, no Brasil, uma produção sistemática de dados públicos sobre violência política contra mulheres. Em 2020, o Instituto Marielle Franco realizou uma pesquisa com 142 mulheres negras de 21 estados e de 16 partidos, que concorreram nas eleições daquele ano. Nas análises referentes à denúncia da violência política, medo, receio e falta de canais apropriados para denúncia foram aspectos identificados como determinantes para a subnotificação dessa prática. No total, 32,6% das mulheres pesquisadas denunciaram as agressões; 29% delas alegaram não querer denunciar; 17% alegou não se sentir segura ou sentir medo de denunciar a violência; e 8% das candidatas afirmaram não se sentir à vontade para responder. Você pode conferir o estudo no site Violência Política.
Marielle deixou sementes. Simone Nascimento é uma das sementes que perpetuam os caminhos traçados pela parlamentar, que continuam a defender os direitos das mulheres, das negras e dos negros e das pessoas LGBTIQA+. No site do Instituto Marielle Franco, você pode conferir a linha do tempo sobre o crime e as 14 perguntas que permanecem sem respostas. De acordo com a organização, o caso é um marco na história de violações de direitos no Brasil e um atentado contra a democracia.
[+] SAIBA MAIS
As lives temáticas promovidas pelo mandato É Tempo de Resistência têm acontecido semanalmente às segundas-feiras, às 19h, no Instagram do deputado estadual Renato Roseno (@renatoroseno). Você pode conferir essa e outras lives na plataforma. (Texto e arte: Evelyn Barreto)