Teve início, nos dias 13, 14 e 15 de março o mestrado profissional em "Promoção e Vigilância em Saúde, Ambiente e Trabalho" uma parceria da Fiocruz Brasília, Ceará e Pernambuco juntamente com movimentos populares. A turma conta com 39 educandos dos três estados que irão se dedicar aos estudos do mestrado por dois anos.
A abertura oficial aconteceu no Centro de Formação e Capacitação Frei Humberto, em Fortaleza, a mesa de abertura formada por representantes da Rede de Médicos e Médicas Populares, Fiocruz Ceará/Brasília/Pernambuco, Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), Escola de Saúde Pública do Ceará e pelo deputado estadual Renato Roseno (Psol) e o professor e ex-deputado Chico Lopes (PcdoB).
Para Fernando Carneiro, da Fiocruz/CE, "o que estamos vivendo hoje é o resultado da forma predatória como a humanidade se relaciona com o meio ambiente. É muito importante uma turma como essa que se debruça sobre temas que tem relação com a justiça ambiental, agroecologia, entre outros". Diante da situação mundial em relação ao novo coronavírus, o deputado Renato Roseno lembrou que "os países que melhor podem enfrentar pandemias são os que tem sistema de saúde público".
Após a mesa de abertura, teve início a aula magna do mestrado com a professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e historiadora Adelaide Gonçalves (UFC) e Elionice Sacramento, educadora, pescadora e quilombola da Comunidade Conceição de Salinas (Salinas da Margarida-BA). Durante a aula magna, foi ressaltada a face anti-intelectual do atual governo federal no Brasil que leva em curso um projeto de destruição das universidades e da produção do conhecimento.
A professora Adelaide Gonçalves lembrou que "as doenças são sociais, as doenças tem história". "A emenda constitucional 95, essa sim uma emenda que mata, um vírus letal. Essa emenda é criminosa. Foi ela que tirou do SUS a possibilidade de dotar as grandes massas trabalhadoras do Brasil do constrangimento de morrer na fila, de morrer nas mais terríveis condições como se está morrendo no Brasil desde o ano passado", afirmou. A EC 95, de 2016, congelou os gastos da União com despesas primárias por 20 anos. Só em 2019, o orçamento da Saúde perdeu R$ 20 bilhões por conta da Emenda do Teto de Gastos.
Já a pescadora Elionice Sacramento lembrou do vazamento de petróleo cru que ocorreu principalmente no litoral do Nordeste brasileiro. "Não é óleo, é petróleo. Passamos três meses sem nenhuma ação do Estado. Mas o que estava em questão? A população negra, tradicional, nordestina. Vimos o peso do racismo. O que é vigilância? E para quem ela se aplica?", indaga.
Para a pescadora, a sociedade tradicional, o capital, quer convencer as comunidades tradicionais de que elas não são importantes. Para que assim, possam instalar grandes resorts nos territórios que são tradicionalmente ocupados por quilombolas, ribeirinhos, camponeses, indígenas, entre outros povos tradicionais. "A luta territorial e a defesa de direitos não é uma luta solo, é uma luta coletiva. O princípio da equidade tem que ser norteados das ciências da saúde", afirmou. (Texto: Amanda Sampaio - Brasil de Fato / Foto: Divulgação)