As mortes decorrentes de intervenções policiais cresceram 439% em seis anos no Ceará. Na noite da última sexta-feira, 13, o adolescente Juan Ferreira dos Santos, de 14 anos, tornou-se mais uma vítima dentro dessa nefasta estatística: o jovem foi morto com um tiro disparado por um policial quando participava de uma festa na Praça do Mirante, no bairro Vicente Pinzon. Em pronunciamento no plenário da Assembleia Legislativa no último dia 18, o deputado estadual Renato Roseno lamentou a morte do jovem, solidarizou-se com a família e os amigos e cobrou do governador Camilo Santana um pedido de desculpas e uma mudança na lógica de policiamento e na relação entre a polícia e as comunidades.
"Esperamos que sua excelência o governador, que ainda não se pronunciou sobre o caso, venha a público para exercer com humanidade e altivez o direito de reparação com um pedido de desculpas à família; e também que não se renda à necropolítica", destacou Renato.
Segundo relatos de testemunhas divulgados pela imprensa, na noite do assassinato, acontecia uma festa na Praça do Mirante. Por volta de 21h30, uma viatura com seis agentes da Polícia Militar (PM) chegou ao local para atender uma denúncia de “perturbação do sossego alheio por som alto”. Na sequência, começou uma discussão entre os agentes e os moradores e foi feito o disparo. Juan foi atingido e levado ao Hospital Geral de Fortaleza (HGF), mas não resistiu aos ferimentos e veio a falecer por volta da meia-noite.
Em nota, a Polícia Militar do Ceará (PMCE) informou que o policial autor do disparo foi identificado e está detido no Presídio Militar. Segundo a PM, os agentes que realizavam patrulhamento na região notaram “indivíduos em atitude suspeita” na praça e se aproximaram para realizar a abordagem. Os pais de Juan questionam a versão da polícia afirmando que o filho foi atingido pelas costas, na cabeça.
“A princípio, eles achavam que tinha sido só uma queda, por causa da correria. Os meninos não sabiam que tinha sido um tiro. Só que quando ele se baixou pra pegar a chinela ele já tava baleado, ele ainda correu baleado, mas não aguentou, porque foi um tiro certeiro na cabeça do meu filho que não tinha defesa, foi nas costas, não tinha como se defender”, relatou a mãe de Juan, Tânia de Brito.
"Desde o sábado, quando tomamos conhecimento, ficamos primeiro com a sensação de tragédia. Uma mãe e um pai foram obrigados a enterrar um filho de 14 anos", afirmou Renato. "O Ceará precisa inaugurar uma nova modelagem de policiamento, baseado em outro tipo de relação da polícia com a comunidade. Jovem na praça não é risco, jovem na praça não é sinal de violência. Jovem na praça pode ser oportunidade para excelentes políticas públicas em prol do direito de todos".
[+] Cofira aqui a íntegra do pronunciamento de Renato Roseno.