A Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará enviou, na última sexta-feira (4), ofício à Comissão Intergestores Bipartite (CIB) da Secretaria de Saúde do Estado, em nome de seu presidente, o secretário de Saúde Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, solicitando a vacinação de mulheres lactantes e o desenvolvimento de pesquisas, em âmbito estadual, sobre o impacto da amamentação na imunização e proteção dos lactentes.
"Considerando que o Estado do Ceará vem construindo diversas frentes no enfrentamento à pandemia, inclusive no âmbito científico e tecnológico, reforçarmos a avaliação da antecipação de vacinação de mulheres lactantes. Especialmente por, há alguns meses, já ocorrer divulgações de estudos científicos que apontam a existência de anticorpos no leite humano em mulheres vacinadas", destaca o presidente de CDHC, o deputado estadual Renato Roseno (PSOL).
Um estudo recente feito por pesquisadoras do Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com 20 funcionárias do complexo hospitalar, imunizadas com a vacina CoronaVac entre janeiro e fevereiro de 2020, mostrou que houve indução de anticorpos contra a Covid-19 no leite materno, mesmo quatro meses após a mãe ter sido vacinada. As amostras foram testadas para presença de anticorpos imunoglobulina A (IgA) em imunoensaio (ELISA), mesmos parâmentos usados pelo estudo de Israel, que constatou a presença de anticorpos em lactantes que receberam a vacina da Pfizer.
Em todo o país, mulheres lactantes tem iniciado uma movimentação coletiva reivindicando a inserção do grupo como prioridade na vacinação. Em Fortaleza, uma das responsáveis pela organização é a gerente administrativa Géssica Araújo, 30. "Hoje, somos dois grupos do WhatsApp com quase 300 lactantes, temos o perfil do Instagram com 1800 pessoas e uma petição online com mais de 6.200 assinaturas. Temos um grupo moderador nacional, que é representado pelas mães da Bahia, onde começou o movimento", destaca. Atualmente, Bahia, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte estão vacinando o grupo, por meio de decisão resolutiva das CIBs locais.
Taxa de mortalidade
Géssica é mãe do pequeno Raul, de seis meses, e se dedica à amamentação exclusiva do bebê. "As lactantes buscam a vacina para adquirir uma proteção para as crianças que estão sucetíveis a forma mais grave da doença. Esas crianças não podem usar máscara por risco de sufocamento, e sabemos também que os estudos já mostram que a partir do momento que a grande população em geral estiver imunizada, essas crianças passarão a ser o grupo de maior risco", explica. "Além do medo da contaminação, onde as mães já não podem conviver nem mesmo com seus parentes com o medo dos seus filhos se contaminarem, o isolamento vai ter que ser redobrado, visto que o medo vai ser muito maior de expor nossos filhos", acrescenta.
De acordo com os dados do último boletim epidemiológico (semana 01/06/2021 a 04/06/2021) a taxa de mortalidade de crianças entre 00 e 04 anos é particularmente alta (0,45), quando considaradas as taxas dos grupos populacionais mais jovens, como crianças de 05 a 09 anos (0,11) ou adultos de 30 a 34 anos (0,33).
No Estado do Ceará, há também proposições legislativas em diversos municípios e em âmbito estadual. A maior parte das cidades encontram-se em fases distintas da vacinação e em Fortaleza já está previsto o início da vacinação para a população em geral, por ordem descrente de idade, em paralelo aos últimos grupos prioritários elencados no Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Inserir o grupo na categoria de população geral, no entanto, é reforçar uma vulnerabilidade e aumentar a invisilidade para as mães e crianças, garante Géssica. "A idade é um fator que relativiza e invisibiliza essas mães. Há outros fatores que precisam ser levados em consideração, como contexto social e histórico. Temos muitas lactantes de 18 anos que serão as últimas a serem imunizadas através dessa estratégia", alerta. "Fora que sabemos que tem muitos municípios que a vacinação ainda não está avançada, que não aderiram à população em geral. Nossa luta não é específica, é um luta para todas as lactantes em geral!", reitera.
Lactantes na pauta
No próximo dia 18 de junho, a CDHC irá realizar reunião para tratar sobre a priorização da vacinação das lactantes. Serão convidados representantes estaduais e municipais que lidem com a temática de forma direta ou indireta. "Estamos tocando essa discussão, visto que fomos demandados pelo movimento das lactantes aqui no Estado e sabemos da importância de priorizar o grupo. A CDHC tem sido muito sensível a essa pauta", destaca Roseno. (Texto: Evelyn Barreto / Foto: Acervo Pessoal - Géssica Araújo)