Direcionar recursos para realização de pesquisa sobre efeitos da vacinação contra a Covid-19 em lactantes e ampliar o escopo de vacinação nos municípios cearenses, foram alguns dos encaminhamentos extraídos da reunião técnica realizada na manhã desta sexta-feira (18/06), pela Comissão de Direitos Humanos e Cidadania (CDHC) da Assembleia Legislativa. O debate foi na plataforma Zoom e atendeu demanda do Movimento de Lactantes pela Vacina.
O deputado Renato Roseno (Psol), que preside a comissão, explicou que a vacinação das lactantes teria “dupla vantagem”, ao proteger tanto a mãe quanto o bebê. Ele alertou que muitos estados priorizaram a vacinação dessas mães em fase de aleitamento, como Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso e Bahia, e que apesar de alguns estudos já apontarem a transmissão de anticorpos da mãe para o leite materno, esse tipo de pesquisa ainda não existe no Ceará e poderia ser realizada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), via Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).
A representante do Movimento de Lactantes, Géssica Valeska Viana, justificou a importância desse posicionamento. Segundo ela, as lactantes compõem um grupo vulnerável, formado por mulheres periféricas, em sua maioria, e a quem cabe o cuidado dos filhos, e às vezes até os de outras pessoas. “Além disso, tem aquelas que mantêm o Banco de Leite, algo que beneficia outras crianças, então é preciso criar um ambiente seguro para estas mulheres, dada a importância do leite materno na nutrição do bebê até os dois anos de idade”, assinalou.
Ela lembrou que ainda não há vacinas para crianças e que os cuidados que os adultos tomam, como o uso de máscaras, são dispensados a elas em razão de outros perigos (como sufocamento), o que as tornam ainda mais vulneráveis, não apenas a Covid-19, mas a qualquer tipo de contágio.
Outras necessidades que se apresentaram durante a conversa foram a apuração de dados precisos sobre a diminuição de procura do Banco de Leite Humano (Maternidade Escola Assis Chateaubriand-Meac) por conta da pandemia de Covid-19, o que tem como consequência um maior grau de desmame precoce; e a inclusão do debate sobre as lactantes na pauta da próxima reunião da Comissão Intergestores Bipartite da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa), responsável pela definição logística das vacinações.
A Secretária Executiva de Vigilância e Regulamentação da Sesa, Magda Moura de Almeida, explicou que o Ceará iniciou o processo de vacinação em massa, e que deve chegar a 25% da população adulta completamente imunizada nos próximos dias. Ela afirmou, entretanto, que neste período não haverá mais acréscimo de prioridades. Isso porque, segundo ela, a cada prioridade que se estabelece, quebra-se a sistemática e se altera o ritmo das imunizações devido à necessidade de apresentação de critérios de comprovação.
“Assim, fechamos que não haveria mais prioridades a não ser por gestantes e puérperas, as quais configuram um grupo pequeno, e dentro do qual já estão inseridas muitas lactantes. Faltam apenas 6.000 desse grupo a serem imunizadas, o que deve ocorrer nos próximos 15 dias. Seguindo esse cronograma, toda a população adulta vai estar vacinada entre o final de agosto e o mês de setembro”, esclareceu.
Magda Moura apontou ainda outros problemas. Segundo ela, há cerca de 330 mil doses de vacinas paradas nos municípios. A secretária alertou para a importância de uma comunicação direta com os prefeitos, no sentido de dar andamento às vacinações. Ela informou que, desde o início das vacinações, o Saúde Digital, canal para cadastro da população que deve se vacinar, registrou 52.521 cadastros no grupo de gestantes e puérperas, mas só apresenta 3.608 mães imunizadas. “Pode ser um atraso na atualização do sistema, pode haver mais mães imunizadas. Sabemos que muitas pessoas não se vacinaram, pelos mais diversos motivos, mas é mais um dado que precisamos verificar e confirmar”, pontuou.
A reunião contou ainda com a colaboração da obstetra e coordenadora do hospital e Maternidade Zilda Arns Neuman-Hospital da Mulher, Soraya Cristina Guedes de Medeiros; da pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da Uece, Maria Lúcia Duarte Pereira; do pediatra e presidente do Departamento Científico de Imunização da Sociedade Cearense de Psiquiatria, João Cláudio Jacó Pinto; e de Ana Patrícia Chaves, representando a deputada Augusta Brito (PCdoB). (Texto e foto: ASCOM-AL)