Maria Silvaneide Nascimento é filha de agricultores da Chapada do Apodi. Acompanhando a VII Romaria em homenagem ao agricultor Zé Maria do Tomé, assassinado em 2010 em razão de sua luta contra o agronegócio e o uso indiscriminado de agrotóxicos na região da Chapada, ela relembra a injustiça da morte do companheiro. “Ele estava procurando os direitos dos agricultores. Os grandes empresários querem as terras para exportar, nós não – nós queremos para nossa vida, nossa sobrevivência”. Silvaneide foi uma das primeiras a chegar ao acampamento que recebeu o nome de Zé Maria do Tomé e há três anos reivindica o direito fundamental à terra e moradia.
A Romaria Zé Maria do Tomé, organizada pelo movimento M21 e pelas comunidades eclesiais de base, com apoio de diversos setores da sociedade, é momento de reunião de lutadores e lutadoras do campo, para lembrar o assassinato cruel de Zé Maria, que aconteceu enquanto ele voltava do trabalho para casa, no Sítio do Tomé, a 240 km de Fortaleza, e reafirmar a sua luta: falar por ele, já que calaram sua voz. A edição deste ano foi realizada na última sexta-feira, em Limoeiro do Norte.
A denúncia da morte do líder rural, executado com mais de 20 tiros, foi apresentada em 2012 pelo Ministério Público e acusava dois grandes empresários da região como mandantes: João Teixeira Júnior, proprietário da Frutacor Comercialização e Produção de Frutas; e José Aldair Gomes Costa, gerente da empresa. Em março deste ano, desembargadores do TJ-CE inocentaram o empresário João Teixeira e o gerente José Aldair. Apenas o caseiro Francisco Marcos irá a julgamento pelo assassinato do ambientalista. Mas ainda cabe recurso à decisão.
Zé Maria foi um dos principais responsáveis pela criação da lei, aprovada na Câmara dos Vereadores de Limoeiro do Norte, em 20 de novembro de 2009, que proibia a pulverização aérea, técnica usada para aplicação de agrotóxicos em grandes plantações. A lei foi revogada um mês após a morte do agricultor.
A romaria é um espaço de reivindicação por justiça hídrica e fundiária e de sensibilização da sociedade para a causa dos danos dos agrotóxicos ao meio ambiente e à saúde. Na Chapada do Apodi há, segundo estudo realizado pelo Núcleo Tramas (Trabalho, Meio Ambiente e Saúde), vinculado ao Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), altos índices de doenças decorrentes de intoxicações por agrotóxicos, como cânceres, abortamentos, más formações fetais, exploração do trabalhador e distribuição de renda desigual. O estudo apontou ainda a contaminação da água de poços por agrotóxicos e a desigual divisão hídrica da região, uma vez que em Quixeré, por exemplo, dos 244 poços profundos perfurados, 165 são propriedade do agronegócio.
Cantando, a Romaria nos faz lembrar que a Chapada é do povo. E que, como diz na palavra de ordem “É só lutando que será nossa de novo”.