Afrânio Castelo, nosso companheiro de mandato e interlocutor próximo a Rosa da Fonseca, escreve sobre a tristeza da perda dessa que foi uma das mais importantes referências para a luta da esquerda no estado do Ceará
Soube há poucos minutos do falecimento de Rosa Fonsêca. Ainda desorientado, hesitei sobre a necessidade de registrar meus sentimentos de pronto, me perguntando se não seria melhor aguardar assentar um pouco a força da dor.
Escolhi manifestar-me logo. Talvez porque, para falar de Rosa, me é preciso falar da grande fornalha de sentimentos e determinação que lhe caracterizava. Com Rosa, aprendi a mais importante das paixões, a do compromisso com a transformação radical do mundo, rumo à emancipação integral da humanidade de toda as cadeias que lhe desumanizam. Uma paixão arrebatadora, que lhe inspirava cada ato, cada gesto, cada palavra. Uma paixão capaz de irradiar-se e contagiar, sem fronteiras de classe ou erudição.
Tive a sorte de conhecê-la ainda na adolescência, em 1989, recém completos 17 anos. Por cerca de mais quinze anos convivi com ela quase que diariamente, dividindo uma militância intensa, que não conhecia hora para estar de prontidão para levar a mensagem da resistência e a esperança da mudança. Poderia seguir falando de suas qualidades, lembrar das tantas lutas, mas é inevitável nesse momento deixar de pensar nela também como expressão de um projeto coletivo, encarnado em tantos lutadores e lutadoras que com ela dividiram e seguirão dividindo o projeto emancipatório. Em sua grandeza própria, Rosa foi ainda mais Rosa porque foi sempre a sínteses das Marias, Célias, Sandrinhas, Ronaldos, Julianas, cada qual com suas luzes, mas que foram capazes de se exprimirem como uma só grandeza, marcando a história das lutas de nosso povo.
Não há palavras para descrever o sentimento de perdê-la. Mas há espaço para deixar o reconhecimento falar. Mesmo divergente em ideias, mas sempre as tendo em vista, posso perceber que não existirão outras Rosas, iguais ou maiores. Peço licença aos discordantes, mas assim como para o poeta Fernando Pessoa o rio que cortava sua aldeia era o mais bonito de todos, por ser o rio que cortava a sua aldeia, ouso afirmar que a nossa Rosa, a Rosa Fonsêca, é a maior de todas as revolucionárias. Maior até que a outra, a Rosa Luxemburgo, que mesmo sem tê-la conhecido e sem o saber, a definiu tão perfeitamente ao definir a própria Revolução, doravante fundidas em seu próprio destino: “Era, Sou e Serei!”
Rosa presente, sempre!
AFRÂNIO CASTELO (01.06.2022)