Na próxima sexta-feira, 23, às 18h, o mandato "É tempo de resistência", do deputado estadual Renato Roseno (PSOL-CE); e o Comitê Cearense de Prevenção e Combate à Tortura promovem o seminário "O sistema prisional e produção de violências: discutindo a agenda nacional pelo desencarceramento". O encontro será realizado no complexo das comissões da Assembleia Legislativa e vai contar com a presença de representantes da Pastoral Carcerária, entre eles, o padre Valdir João Silveira, coordenador nacional da entidade.
Atuando há quase duas décadas nos trabalhos da pastoral, padre Valdir tem sua trajetória ligada à defesa das pessoas encarceradas e à evangelização dos pobres em paróquias das periferias. Crítico da política de encarceramento, o religioso tem percorrido o Brasil visitando presídios, produzindo estudos e participando de debates sobre o sistema prisional brasileiro. "O antigo coordenador nacional da Pastoral Carcerária, o saudoso padre Chico, que morreu em 1999, costumava chamar as penitenciárias brasileiras e os distritos policiais de 'corações do inferno'. É o que são", defende padre Valdir, que compara nossas cadeias aos campos de concentração de Auschwitz.
"Nós todos, agentes da Pastoral Carcerária, que em alguns casos vamos diariamente aos presídios e cadeias do Brasil, lembramos usualmente da frase do Padre Chico. Ele se perguntava e nos questionava: 'É possível morrer-se em Auschwitz, depois de Auschwitz?' A resposta é sempre a mesma: sim!", afirmou recentemente em entrevista ao jornalista Mauro Lopes, do blog "caminho pra casa". "Os nossos presídios são extensões do que aconteceu nos campos de concentração. As torturas e os maus-tratos são as práticas corriqueiras das casas de punição e castigos, que chamamos de presídios. Enquanto houver presídios e cadeias feitos campos de torturas e de maus-tratos, Auschwitz continuará sendo uma triste realidade – no Brasil inteiro".
Em suas palestras e entrevistas, o religioso tem destacado a atuação do papa Francisco, que condenou os massacres registrados nos últimos anos em penitenciárias brasileiras e pediu condições dignas de vida para presos e presas. Também tem ressaltado a posição de entidades como a CNBB, que tem sido contundente em sua crítica à privatização dos presídios e em sua defesa do desencarceramento. Sobre a opinião pública, Valdir relata sua experiência junto às famílias dos encarcerados.
"Se a população soubesse o inferno que é a vida num presídio… O que a gente vive no dia a dia da Pastoral Carcerária é encontrar com parentes e amigos de pessoas que, por um motivo ou outro, foram presas e que tinham o discurso do 'prende-arrebenta-mata'. Não há uma sequer que mantenha esse discurso. Todo mundo fica chocado e muda de posição, imediatamente", afirma. "Eu lhe garanto: se colocassem cães e gatos nos presídios brasileiros, tratados como as pessoas são tratadas atualmente, teríamos milhões nas ruas e mobilização mundial contra o Brasil. Mas é preciso por outro lado encarar um fato: quem apoia o massacre é herdeiro ou continuador daqueles que apoiaram no passado o extermínio dos indígenas e a escravidão dos negros".
Serviço: Seminário "O sistema prisional e produção de violências: discutindo a agenda nacional pelo desencarceramento". Sexta-feira, dia 23 de junho, 18h, no Complexo de Comissões da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.