“Na grande maioria dos casos, as pessoas que estão atravessadas pela dor, elas não querem acabar com a vida, elas querem que a dor acabe. Por isso, é necessário investir em políticas de saúde mental, em políticas de acolhimento, em medidas de atenção psicossocial, para a prevenção do adoecimento e, por consequência, do suicídio”.
A afirmação é do deputado estadual Renato Roseno (PSOL), que participou na manhã desta sexta-feira (30) do seminário “A evolução da prevenção do suicídio no Brasil e no Mundo”. O evento, realizado na Universidade do Parlamento Cearense (Unipace), foi promovido pelo Ministério Público Estadual, através do projeto “Vidas Preservadas”; e marcou o lançamento da Campanha Setembro Amarelo 2019 no Ceará.
Renato é autor da lei 16185/16, que institui o setembro amarelo no calendário oficial do Estado. Entre outros pontos, a legislação prevê que, ao longo de todo o mês, deverão ser realizadas no Ceará atividades, debates, palestras e eventos com a finalidade de informar, esclarecer e conscientizar a sociedade sobre a valorização da vida e prevenção ao suicídio.
“O setembro amarelo é um movimento internacional para falar e para prevenir o suicídio”, explica Renato. “É preciso quebrar o tabu, falar sobre o adoecimento mental, cobrar o atendimento devido e, com isso prevenir o suicídio. É possível que essa dor, em sendo acolhida, ela não gere o suicídio”, defende o parlamentar.
Segundo Renato, o homicídio, o suicídio e o trânsito são as principais causas externas que matam adolescentes e jovens no Brasil e no Ceará, que possui estatísticas muito negativas em relação ao suicídio. Em 2017, cerca de seis em cada 100 mil pessoas morriam por suicídio em Fortaleza, o que resulta em uma média de aproximadamente 300 pessoas por ano.
“Lamentavelmente, nós vivemos numa sociedade que produz múltiplas crises, que causam muito adoecimento mental. Uma sociedade hiperconsumista, hiperindividualista, em que, sem necessidades básicas garantidas, as pessoas se sentem muito abandonadas. Isso provoca um sofrimento mental em larga escala”, afirma. “A depressão é um sintoma dessa sociedade. E gera maior ideação suicida, impactando inclusive na própria realização do suicídio”.
PALESTRA – Durante o evento de lançamento do Setembro Amarelo, o psiquiatra José Manoel Bertolote, criador do programa de prevenção do suicídio da Organização Mundial de Saúde (OMS), proferiu uma palestra sobre o tema. Segundo médico, o suicídio é um fenômeno associado a diversos tipos de doenças, a maioria delas mentais e algumas físicas.
“O tratamento dessas doenças – em especial depressão, alcoolismo e esquizofrenia -, pode reduzir substancialmente o índice de suicídios”, explica Bertolote. “Além disso, o seguimento dos casos de tentativa de suicídio, o controle do uso de substâncias tóxicas, o controle de armas pessoais, a moderação dos meios de comunicação e a instalação de barreiras físicas também são, comprovadamente, importantes agentes redutores dessas taxas”.
Para Hugo Mendonça, um dos coordenadores do projeto Vidas Preservadas, o suicídio é considerado uma epidemia no mundo, no Brasil e no Ceará. De acordo com o promotor, 51% de todas as mortes violentas que acontecem no mundo hoje são decorrentes de suicídio. “Ainda assim, todos os entes envolvidos sabem que existe uma alta subnotificação dos casos. Por isso, o Vidas Preservadas reúne as principais instituições públicas, privadas e não governamentais que atuam no cuidado da saúde mental da população para trabalhar em conjunto na prevenção, intervenção e posvenção”, explica.
CAMPANHA – Para marcar o Setembro Amarelo, o Ministério Público do Estado do Ceará, através do projeto Vidas Preservadas, vai realizar a campanha #RecadosAmarelos nas redes sociais. Todo dia ímpar de setembro, serão publicadas mensagens de incentivo escritas à mão em bilhetes amarelos no perfil do Instagram @mpce_oficial. A ideia é oferecer uma palavra amiga e de apoio para quem mais precisa. Qualquer um pode participar: basta escrever sua própria frase em um papel amarelo, fotografar e publicar marcando a #RecadosAmarelos e o @mpce_oficial. As mensagens serão repostadas e podem ajudar milhares de pessoas.
*Se você precisa de ajuda ou conhece quem precisa, busque apoio no Centro de Valorização da Vida (CVV), através do telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br