A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) realizará, na próxima sexta-feira (09), a partir das 9h, uma sessão solene em memória dos 50 anos da morte de Frei Tito de Alencar, frade dominicano, símbolo cearense da luta pela democracia e pelo fim ditadura militar brasileira. A homenagem, que foi requerida pelo deputado estadual Renato Roseno (Psol) e pela deputada estadual Larissa Gaspar (PT), contará com a participação do deputado federal Pastor Henrique Vieira, do Rio de Janeiro.
Para Roseno, ao homenagear pessoas como Frei Tito de Alencar, se procura avançar na luta por memória, verdade e justiça. “Alguns passos na defesa dos direitos fundamentais só foram possíveis pela luta daqueles que vieram antes de nós, como Frei Tito, que defendeu um projeto de sociedade justo e solidário”, justifica.
Na avaliação do parlamentar, a defesa dos direitos humanos, na figura de Frei Tito de Alencar, é reconhecida no Brasil e no mundo. Em suas palavras, “nossa geração terá que ser profundamente criadora”, para “o esplendor de nossa cultura dizer bem forte o quanto tínhamos para dar, mas, infelizmente, os donos do mundo impediram-nos”.
História
Nascido em Fortaleza, Frei Tito iniciou sua militância por volta de 1961 e 1962, quando ingressou no Liceu do Ceará e passou a compor a União Cearense de Estudantes Secundaristas e a Juventude Estudantil Católica (JEC). Em 1968, mudou-se para São Paulo para estudar filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e, no mesmo ano, em 12 de outubro, foi preso sob acusação de ter alugado o sítio onde ocorreu o 30° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna, São Paulo.
Em novembro de 1969, foi preso novamente em companhia de outros dominicanos, todos sob acusação de terem ligações com a Ação Libertadora Nacional (ALN) e seu dirigente Carlos Mariguella. Tito foi submetido à palmatória e aos choques elétricos, no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury.
Em fevereiro do ano seguinte, quando já se encontrava em mãos da Justiça Militar, foi retirado do Presídio Tiradentes e levado para a sede da Operação Bandeirantes (Oban). Foi, então, torturado nos seus porões, em local chamado por Maurício Lopes, torturador, de “sucursal do inferno”.
Além do pau de arara, Tito foi submetido a choques elétricos, socos, pauladas e enfrentou um corredor polonês, sendo queimado com cigarros. Na prisão, Frei Tito escreveu detalhadamente sobre os métodos utilizados para torturá-lo. Os relatos ganharam notoriedade em todo o mundo, transformando-se em símbolo de luta pelos direitos humanos. O documento foi anexado ao seu caso na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos.
Exílio
No governo Médice, Tito foi banido do Brasil com mais 69 presos políticos, seguindo para o Chile, de onde fugiu para Itália, pois, novamente, estava sob ameaça de prisão. De Roma, seguiu para Paris, onde recebeu apoio dos dominicanos e, uma vez na França, pôde retomar os estudos e atuar em entidades religiosas.
Na Europa, assim escreveu em uma carta a Frei Daniel: “Apesar de ainda angustiado, estou cheio de esperança. Nem um só momento de minha vida lamentei o que fiz. Estou asilado, banido e longe de minha pátria, mas estou firme e disposto a continuar a lutar, embora minha resistência psicológica tenha reduzido bastante após os 14 meses de prisão. Iniciarei uma psicoterapia para ver ser a recupero o mais rápido possível”.
Aos 29 anos, Frei Tito cometeu suicídio, durante o exílio na França, em 10 de agosto de 1974. Sua morte derivou do sofrimento físico e psicológico que carregava, como resultado dos anos de tortura e perseguição implementados pela ditadura militar brasileira.
Memória, verdade e justiça
Há pouco mais de um mês, o Plenário da Alece aprovou um projeto de lei do deputado Renato Roseno — que se tornou a lei 18.907/2024 —, que cria a Semana Estadual em Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos, “Para que jamais se esqueça; para que nunca mais aconteça”. A iniciativa aponta que, na primeira semana do mês de abril, deverão ser realizadas ações de difusão de informações sobre o regime de exceção vivido no Brasil entre os anos de 1964 e 1989 e sobre as lutas das vítimas e de seus familiares, buscando preservar a memória, a verdade histórica e a justiça.
Além disso, a Alece homenageia Frei Tito ao batizar o seu relevante escritório de defesa de direitos humanos, fundado em junho de 2000, com o seu nome. O Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar (EFTA) é um órgão permanente de promoção à cidadania, em funcionamento nesta Casa Legislativa, que atua de forma judicial e extrajudicial, sobretudo, em causas coletivas e de repercussão coletiva, oferecendo atendimento e apoio às demandas de comunidades vulnerabilizadas, grupos, coletivos, movimentos e indivíduos que tenham sofrido violações de direitos.
Serviço
Sessão solene sobre os 50 anos da morte de Frei Tito de Alencar
Data: 9 de julho (sexta-feira), a partir das 9h.
Local: Auditório Deputado João Frederico, que fica na Escola Superior do Parlamento Cearense (Unipace), anexo II da Alece, localizada na Rua Barbosa de Freitas, 27,09, no bairro Dionísio Torres.