Sessão solene lembra os 50 anos da morte de Frei Tito de Alencar

06/08/24 10:25

A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece) realizará, na próxima sexta-feira (09), a partir das 9h, uma sessão solene em memória dos 50 anos da morte de Frei Tito de Alencar, frade dominicano, símbolo cearense da luta pela democracia e pelo fim ditadura militar brasileira. A homenagem, que foi requerida pelo deputado estadual Renato Roseno (Psol) e pela deputada estadual Larissa Gaspar (PT), contará com a participação do deputado federal Pastor Henrique Vieira, do Rio de Janeiro.

Para Roseno, ao homenagear pessoas como Frei Tito de Alencar, se procura avançar na luta por memória, verdade e justiça. “Alguns passos na defesa dos direitos fundamentais só foram possíveis pela luta daqueles que vieram antes de nós, como Frei Tito, que defendeu um projeto de sociedade justo e solidário”, justifica.

Na avaliação do parlamentar, a defesa dos direitos humanos, na figura de Frei Tito de Alencar, é reconhecida no Brasil e no mundo. Em suas palavras, “nossa geração terá que ser profundamente criadora”, para “o esplendor de nossa cultura dizer bem forte o quanto tínhamos para dar, mas, infelizmente, os donos do mundo impediram-nos”.

História

Nascido em Fortaleza, Frei Tito iniciou sua militância por volta de 1961 e 1962, quando ingressou no Liceu do Ceará e passou a compor a União Cearense de Estudantes Secundaristas e a Juventude Estudantil Católica (JEC). Em 1968, mudou-se para São Paulo para estudar filosofia na Universidade de São Paulo (USP) e, no mesmo ano, em 12 de outubro, foi preso sob acusação de ter alugado o sítio onde ocorreu o 30° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna, São Paulo.

Em novembro de 1969, foi preso novamente em companhia de outros dominicanos, todos sob acusação de terem ligações com a Ação Libertadora Nacional (ALN) e seu dirigente Carlos Mariguella. Tito foi submetido à palmatória e aos choques elétricos, no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury.

Em fevereiro do ano seguinte, quando já se encontrava em mãos da Justiça Militar, foi retirado do Presídio Tiradentes e levado para a sede da Operação Bandeirantes (Oban). Foi, então, torturado nos seus porões, em local chamado por Maurício Lopes, torturador, de “sucursal do inferno”.

Além do pau de arara, Tito foi submetido a choques elétricos, socos, pauladas e enfrentou um corredor polonês, sendo queimado com cigarros. Na prisão, Frei Tito escreveu detalhadamente sobre os métodos utilizados para torturá-lo. Os relatos ganharam notoriedade em todo o mundo, transformando-se em símbolo de luta pelos direitos humanos. O documento foi anexado ao seu caso na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos.

Exílio

No governo Médice, Tito foi banido do Brasil com mais 69 presos políticos, seguindo para o Chile, de onde fugiu para Itália, pois, novamente, estava sob ameaça de prisão. De Roma, seguiu para Paris, onde recebeu apoio dos dominicanos e, uma vez na França, pôde retomar os estudos e atuar em entidades religiosas.

Na Europa, assim escreveu em uma carta a Frei Daniel: “Apesar de ainda angustiado, estou cheio de esperança. Nem um só momento de minha vida lamentei o que fiz. Estou asilado, banido e longe de minha pátria, mas estou firme e disposto a continuar a lutar, embora minha resistência psicológica tenha reduzido bastante após os 14 meses de prisão. Iniciarei uma psicoterapia para ver ser a recupero o mais rápido possível”.

Aos 29 anos, Frei Tito cometeu suicídio, durante o exílio na França, em 10 de agosto de 1974. Sua morte derivou do sofrimento físico e psicológico que carregava, como resultado dos anos de tortura e perseguição implementados pela ditadura militar brasileira.

Memória, verdade e justiça

Há pouco mais de um mês, o Plenário da Alece aprovou um projeto de lei do deputado Renato Roseno — que se tornou a lei 18.907/2024 —, que cria a Semana Estadual em Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos, “Para que jamais se esqueça; para que nunca mais aconteça”. A iniciativa aponta que, na primeira semana do mês de abril, deverão ser realizadas ações de difusão de informações sobre o regime de exceção vivido no Brasil entre os anos de 1964 e 1989 e sobre as lutas das vítimas e de seus familiares, buscando preservar a memória, a verdade histórica e a justiça.

Além disso, a Alece homenageia Frei Tito ao batizar o seu relevante escritório de defesa de direitos humanos, fundado em junho de 2000, com o seu nome. O Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar (EFTA) é um órgão permanente de promoção à cidadania, em funcionamento nesta Casa Legislativa, que atua de forma judicial e extrajudicial, sobretudo, em causas coletivas e de repercussão coletiva, oferecendo atendimento e apoio às demandas de comunidades vulnerabilizadas, grupos, coletivos, movimentos e indivíduos que tenham sofrido violações de direitos.

Serviço

Sessão solene sobre os 50 anos da morte de Frei Tito de Alencar

Data: 9 de julho (sexta-feira), a partir das 9h.

Local: Auditório Deputado João Frederico, que fica na Escola Superior do Parlamento Cearense (Unipace), anexo II da Alece, localizada na Rua Barbosa de Freitas, 27,09, no bairro Dionísio Torres.

Áreas de atuação: Direitos Humanos