No Ceará, o número de jovens entre 10 e 29 anos assassinados chegou a 981 em 2017, um aumento de mais de 70% na comparação com o ano anterior. Esses dados, levantados pelo Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência (CCPHA), foram apresentados por Renato Roseno na manhã da última terça-feira, em Brasília, durante o III Encontro Nacional de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura.
"O que se percebe a partir desse cenário é que estamos vivendo tempos de exceção democrática em que a seletividade da tortura e dos homicídios contra adolescentes se apresenta de uma forma ainda mais cruel e racista. A tortura, por exemplo, é um crime de oportunidade. E ela só vai se dar, em regra, nos territórios urbanos periféricos e pobres", explicou Renato, que é relator do CCPHA.
Participaram do evento, que ocorreu na sede do Ministério dos Direitos Humanos, membros de comitês e mecanismos nacionais e estaduais de prevenção e combate à tortura, do sistema de justiça, do poder executivo e da sociedade civil, inclusive vítimas de tortura e seus familiares. Com o tema “Juventude e vulnerabilidade à Tortura: marcadores de exclusão de raça, de gênero e classe”, a mesa de Renato também foi composta pela psicóloga Ana Janaína Alves de Souza; pela perita do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate a Tortura e especialista em Relações de Gênero e Raça- Sistema Prisional, Deise Benedito; e pelo doutorando em Direito pela Universidade de Brasília, Felipe Freitas.
Em sua fala, Renato trouxe dados levantados pelo Comitê Cearense de Prevenção de Homicídios de Adolescentes que demonstram com precisão os marcadores de raça, gênero, classe e também geração nas vítimas preferenciais da violência e, de forma particular, da tortura. Para ele, trata-se de um abandono seletivo e sistêmico de jovens negros da periferia, o que culminou nos últimos anos em um processo de homicídio em massa, especialmente no Nordeste. O parlamentar ainda destacou que dados dos último três anos apontam um crescimento de homicídios de meninas adolescentes, ainda com mais marcas de tortura que dos adolescentes homens.
Renato afirmou que quando uma mãe da periferia diz, de forma muito doída, que parece que a vida de seu filho vale menos, esse é um raciocínio que não está desprovido de razoabilidade. "Porque há corpos marcados por cor, raça e gênero que se tornam mais suscetíveis à violência e à discriminação. Portanto, é importante restabelecer a democracia nesse país, inclusive para dizer que a vida das pessoas têm peso e valor iguais". (Fotos: Luiz Alves/Ascom MDH)
[+] Confira íntegra da fala de Renato durante o evento em https://bit.ly/2KOSIvm